sexta-feira, 11 de março de 2016

Pobres e Nojentas: lá se vão 10 anos...


Miriam e eu


Jussara Godoi - musa inspiradora 

Por elaine tavares

A vida passa num incrível turbilhão quando a gente está por aí, envolvida com as lutas sociais, com as batalhas pela cidade que amamos, com as dores e alegrias cotidianas. Então, ontem, indo para uma entrevista, Miriam e eu começamos a falar alguma coisa da Pobres e, num átimo, percebemos: em maio desse ano a Pobres e Nojentas – revista que criamos em 2006 – completa 10 anos de existência.

Era uma dessas manifestações de luta no centro da cidade e nós encerramos o dia na padaria Brasília, que ficava ali, em frente à Praça XV. Era comum tudo acabar num café regado a memórias da batalha recém-vivida. Falávamos então do jornalismo, cada dia mais idiotizado em revistas como a Caras – especializada em falar da vida dos ricos anônimos. Aí, nossa musa – Jussara Godoi – deu a ideia. Por que vocês não criam uma revista que fale dos pobres, mas dos pobres nojentos, esses que não se entregam por estarem empobrecidos e vão pela vida afora, nariz erguido, rompendo as cercas?

Foi a dica para o projeto. E, em maio de 2006 saiu o primeiro número da revista que ousamos chamar de Pobres e Nojentas, buscando mirar o mundo não só a partir da mulheridade, o feminino, mas também da classe. Nossa revista nascia com uma escolha: era uma revista de classe. Da classe trabalhadora. Pobres e Nojentas, um título pedagógico, difícil, “não vendável” como nos alertavam os amigos. A intenção era provocar o desconforto, chamar ao debate. Pobres, porque vítimas do sistema capitalistas, mas Nojentas, porque falaria dessa comunidade que, mesmo solapada pelo sistema capitalista, erguia a cara e enfrentava o mundo, na luta, na garra.

A ideia tomou corpo e a revista começou sua caminhada. Nas 28 páginas de cada número, a vida dos que realmente fazem o mundo andar. Movimentos sociais, sindicalistas, trabalhadores comuns, artistas populares, heróis e heroínas nacionais e latino-americanas, notícias do mundo sempre na perspectiva de classe. Na Pobres saíam as notícias que nenhum veículo comercial dava, apareciam as pessoas que não interessavam aos meios  de massa. E a revista era distribuída nas comunidades e no terminal urbano, gratuitamente.  

Resistimos em papel até o número 30 (DEZ/2013), uma vez que contávamos apenas com o apoio solitário do Sindprevs/SC e todos os custos saiam do nosso bolso. Sem a ajuda do bloco da esquerda, tivemos de suspender as impressões, mas a Pobres e Nojentas seguiu no mundo virtual através do blog: www.pobresenojentas.blogspot.com. Nosso compromisso com a cidade, com os trabalhadores, com a vida digna fez com que driblássemos as dificuldades e seguíssemos fazendo a cobertura daquilo que os poderosos querem ver escondido.

A Pobres tem edições históricas, como uma especial sobre Cuba, a cobertura do Plano Diretor, o debate sobre o Costão Golf, a luta pela moradia, a questão indígena, as transformações na América Latina, e tantos outros temas de importância vital para a vida dessa nossa amada Meiembipe.

Esse ano, percorrida uma década de vida da Pobres a gente vai sentar em alguma outra padaria – deve ser a do Alemão, lá no final da Conselheiro -  para tomar café com pão e manteiga e conspirar sobre uma edição especial em papel. Vamos juntar os parceiros e parceiras de tantas edições, como a Marcela Cornelli, o Ricardo Casarini, a Raquel Moysés, a Rosângela Bion de Assis, a Sandra Verle, o Moacir Loth, o Celso Vicenzi, o Raul Fitipaldi, o Rubens Lopes – e a musa Jussara Godoi – para partilhar desse lindo aniversário.

Ao fim e ao cabo é bom saber que caminhamos dez longos anos nessa cidade, visceralmente comprometidas com as gentes, sem nunca claudicar. Quanto orgulho tenho dessa “pobrezinha”, que segue nojenta e insuportável, contando as histórias, desvelando a vida. Quanta alegria tenho de ter apostado nesse projeto com uma galera tão especial.

Viva a Pobres e Nojentas! Viva nossa revista de classe! Viva a luta dos trabalhadores!

E que venha mais uma década, porque a luta não para!


Nenhum comentário: