quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Resgate da cultura negra, debate e homenagem à militante e diretor da Fenasps no 20 de novembro em Florianópolis

Por Marcela Cornelli

Para marcar o Dia Nacional da Consciência Negra, entidades sindicais realizaram no dia 20 de novembro, diversas atividades culturais e políticas em Florianópolis. Pela manhã, foram realizadas atividades em frente à Catedral Metropolitana, no Centro da Capital, com apresentação de grupos de dança e hip-hop. Também foram distribuídas cartilhas sobre a anemia falciforme, alertando para as especificidades da saúde da população negra.
À noite, movimentos sindicais e sociais e estudantes se reuniram para participar do debate “O Negro na telenovela brasileira”, com o professor do Departamento de Estudos Sociais da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Ivo Pereira de Queiroz, também militante do Movimento Negro Unificado (MNU).

A ideia de colonialidade
“São 400 anos de racismo e dominação e de desprezo às culturas e saberes da população negra. O primeiro trabalhador do Brasil foi o negro. 12 milhões de vidas foram gastas para construir o Brasil e agora reclamam que o garoto negro quer uma cadeira na universidade”, disse o professor Ivo Pereira de Queiroz.  “A ‘colonialidade’ ficou”, defende o professor, referindo-se à dominação de ideias e preconceitos que permanecem até hoje desde a época do colonialismo. “As pessoas morrem, mas as ideias permanecem nas mentes, corações e nas instituições”.

“Eles já fizeram o contrato com e para quem vão governar”
Na opinião do professor, “hoje vivemos em uma sociedade de aparências e quem produz fica do lado de fora. É uma sociedade do consumo e da alienação. Os valores e tradições são regulados pela colonialidade. No governo não é diferente. Os governantes eleitos foram financiados pelas mesmas empresas. Eles já fizeram o contrato com e para quem vão governar”.

O negro e as mulheres na TV
“Na TV as mulheres são transformadas em coisas. Há racismo e inferiorização da gente negra. A mulher negra sofre ainda mais. Há o estereótipo de que a mulher branca é para casar e para cozinhar e a mulata para fornicar”, diz o professor. “Por isso, a lei que deu mais direitos às empregadas domésticas foi tão combatida. A colonialidade está no imaginário como se fosse um vírus. No desenho animado, por exemplo, a cor do mal é sempre escura”.
O professor citou o exemplo de vários atores negros que tiveram papéis na TV associados ao consumo do álcool, sem dentes e engraçados e/ou mal tinham falas no seu papel, na maioria das vezes retratados como empregadas domésticas, motoristas e/ou seguranças da elite branca. Para o professor, houve algumas mudanças, isso graças à pressão dos movimentos negros, porém ainda estamos muito aquém do necessário. “Até discutem a maior participação de negros nas novelas, por exemplo, mas não discutem o conteúdo”.  As TVs visam o consumo e não avançam em determinadas questões para não desagradar o público e consequentemente seus patrocinadores. “Dependendo do que o público pensa eles mudam o enredo”, observou Queiroz.

O monopólio das comunicações
“O monopólio das TVs é tão naturalizado. Não se pode ser inocente, tudo tem um propósito, uma intencionalidade. Desmistificar o consumo das ideias é sadio. Precisamos aprender a ficar resistentes ao que os meios de comunicação nos mostram como verdades”.

O papel dos sindicatos
“A injustiça social só desaparecerá quando vencermos a injustiça entre as classes”, enfatizou o professor. Para ele, dentro desta perspectiva o papel do sindicato é fundamental na discussão com os trabalhadores e as pautas sindicais devem avançar para além das discussões das categorias. Se isso não for feito não haverá mudanças.

Homenagem ao Diretor da Fenasps e do movimento negro
Ao final do debate foi feito menção e homenagem, pelo movimento negro de Santa Catarina e por todos os presentes, ao militante do movimento negro do Rio de Janeiro, Manoel Crispim Clemente Flores, servidor do INSS e ex-dirigente da Fenasps, do Sindsprev/RJ e da coordenação nacional da CSP-Conlutas (Central Sindical e Popular), que faleceu nesta quarta-feira, 5 de novembro, vítima de um acidente de carro. Crispim dedicou sua vida à luta dos trabalhadores da seguridade social, ao combate à discriminação racial e à construção de uma sociedade com justiça social.

Participam da organização dos eventos no dia 20 de novembro em Florianópolis as seguintes entidades: Sindes, Sindprevs/SC, Sinte, Sinergia, Sintrasem, Sintrafesc e o Movimento Negro Unificado (MNU).

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