segunda-feira, 17 de junho de 2013

Que país é este?

Marcela Cornelli

Iniciamos o ano e 2013, que se desenha com muitos desafios para os movimentos sindical e social. De fevereiro pra cá, temos visto de tudo no Congresso Nacional. Bem, comecemos com alguns exemplos dignos de revolta popular.

Mesmo sob acusação de crimes de peculato, falsidade ideológica e uso de documento falso, em 1º de fevereiro, foi eleito para presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB). Os escândalos que envolvem o senador não são de hoje. Em 2007, ele renunciou ao cargo da presidência do Senado, acusado de ter seus gastos pessoais e pensão para sua ex-mulher Mônica Veloso pagos pelo lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior. Em 2011, a Procuradoria-Geral da República pediu ao Supremo Tribunal Federal a abertura de um inquérito para investigar prováveis irregularidades na construção de uma estrada dentro de uma reserva ambiental para uma de suas empresas, a Agropecuária Alagoas. É longa a fila de acusações contra o deputado.

Sociedade pede impeachment do Senador

Indignados com a situação, no dia 20 de fevereiro, estenderam uma bandeira do Brasil em frente ao Congresso com uma foto de Renan Calheiros e a frase: “Ordem no Congresso”. Em seguida, foi entregue as 1,6 milhão de assinaturas recolhidas com a ajuda das redes sociais pedindo o impeachment do Senador. O povo clamou, mas não foi ouvido. Foi às ruas, mas não foi o bastante.

Ruralista assume comissão de meio ambiente

No início de março, foi a vez do senador e ex-governador do Mato Grosso Blairo Maggi (PR-MT) assumir a presidência da CMA (Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor, Fiscalização e Controle). Maggi é da bancada ruralista e é considerado um dos maiores produtores de soja do Brasil. Segundo informações divulgadas na imprensa, o senador, por meio do grupo familiar do qual faz parte, Ammagi, é responsável por 5% da produção anual de soja no país e a empresa é uma das maiores produtoras individuais de soja no mundo. O grupo ainda atua na pecuária e extração da borracha e a empresa produz a metade das 170 mil toneladas de soja exportadas no mundo. Dados que assustam. Que interesses colocaram Maggi no poder? Para quem ele vai trabalhar? Perguntas que não querem calar. O que sabemos com certeza é que não vai ser em prol do meio ambiente, do pequeno agricultor, nem vai defender a reforma agrária, nem colocar os interesses ambientais acima dos interesses de mercado. De acordo com informações divulgadas na mídia, em 2004, Maggi chegou a ser líder de uma ocupação predatória. Na época, o Greenpeace chegou a tentar presentear Maggi com um prêmio intitulado “Motosserra de Ouro”. À época da aprovação do Código Florestal, Maggi disse que o texto estaria muito bom para os produtores do Mato Grosso. Todos sabem que as plantações de soja estão destruindo a Amazônia brasileira. Além do desmatamento ilegal, muitas vezes feito com trabalho escravo, há grilagem de terras públicas e violência contra comunidades locais.

Pastor racista e homofóbico em Comissão de Direitos Humanos

A portas fechadas, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados elegeu, no dia 7 de março, o deputado Pastor Marco Feliciano (PSC-SP) para presidir a Comissão. Em 2011, Feliciano declarou que os “africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé”. O pastor diz que não é homofóbico, mas afirma ser contra o ato sexual entre pessoas do mesmo sexo. Durante a sessão na qual ele foi eleito, foi restrito o acesso de manifestantes ao plenário da comissão. Corredores da Câmara foram fechados e apenas assessores e a imprensa burguesa tiveram acesso ao local. Desde então protestos em várias capitais e cidades do país pediram em coro a saída de Feliciano da Comissão. Mesmo com todo a luta e pressão popular, ele permanece na presidência da Comissão.

A “paixão nacional” e a ditadura militar

Fora do Congresso as coisas também vão mal. Às vésperas dos megaeventos esportivos que acontecerão no país a custo de desalojar famílias inteiras, José Maria Marin, atual presidente da Comissão Brasileira de Futebol e também do comitê organizador para a Copa do Mundo de 2014, tem sua vida ligada àqueles que sustentaram a ditadura brasileira. O cartola foi mencionado sobre a suspeita de ter participado da prisão do jornalista Vladimir Herzog, que morreu na prisão, na década de 1970. O filho do jornalista Vladimir, Ivo Herzog, iniciou na internet uma campanha pedindo a saída de Marin e colhe assinaturas. Segundo o documento que pede sua saída, Marin “Fez discursos publicamente em favor do assassino, sequestrador e torturador Sérgio Fleury. Apoiou os movimentos que levaram a tortura, morte e desaparecimento de centenas de brasileiros”.
Falando em ditadura, também em março, o Deputado Cláudio Cajado (DEM), procurador-geral, com uma semana no cargo presidindo a Procuradoria da Câmara, encarregada de defender a imagem da Casa e dos deputados federais, declarou que o órgão vai controlar a internet para tirar do ar vídeos e comentários que desagradam aos parlamentares.
Ou lutamos agora ou seremos engolidos! Há lutas e protestos acontecendo em todo país sobre os fatos acima, porém ainda não é o suficiente. Ou a classe trabalhadora se une ou continuaremos “comandados” por homofóbicos, racistas, fraudadores e amigos da ditadura.

Fonte: Revista Previsão nº 1 abril/2013


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