segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

SOBRE FILMES, SACOLAS PLÁSTICAS, NOVELA... QUE MAIS?

Li Travassos, de Curitiba

Faz tempo que, por diversos motivos, ando com vontade de escrever novamente um texto para talvez ser publicado na Pobres, coisa que nunca mais fiz depois que vim embora de Floripa, mas acaba que sempre falta tempo, e nada... Mas de hoje não passa. Vamos começar pelo fim. Ou quase. Neste sábado, dia 4 de fevereiro, ouvi no programa "Espaço Aberto com Miriam Leitão", da Globo News, uma entrevista com o embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, sobre o aumento de vistos para brasileiros entrarem nos Estados Unidos. Claro, estamos ganhando e gastando mais, então porque não ir gastar por lá? O fato é que este Sr. afirma, no referido programa, que a imagem do brasileiro lá fora mudou para melhor. Que o brasileiro está sendo visto com melhores olhos. Será? Ainda neste sábado, no canal Telecine, passou o desenho americano "Rio" (da 20th Century Fox e Blue Sky Studios). Adoro desenho, quase fui ver este no cinema quando passou, as cenas de divulgação são pássaros dançando e cantando, super lindinho, então fiquei bem animada para ver. Além disso, o filme é dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha, o mesmo da trilogia "Era do gelo", que eu adoro... Então tá.

Começa o filme com a tal cena do trailer: pássaros no Rio de Janeiro cantando e dançando, super fofo. Até que são engaiolados por traficantes de animais, e mandados para os EUA. Lá, a gaiola de uma ararinha azul macho, ainda filhote, acaba caindo na rua, no meio da neve, e o bicho é socorrido por uma menina super bacana, que resolve cria-lo como animal de estimação. Quinze anos depois (sabe lá se este bicho costuma viver tudo isso na vida real, mas...) a moça, então dona de uma livraria, recebe como cliente um cientista brasileiro (pra lá de nerd, assim como ela) que ao ver a arara informa que é um animal em vias de extinção de fato, pois há apenas uma fêmea no Brasil, e aquela que ali se encontra seria o último macho. E ele convence a "dona" da arara a levá-la para o Rio de Janeiro, para procriar. Lá chegando (época de carnaval), o macho é colocado junto com a fêmea, que não quer saber de namoro, mas sim de fugir, pois foi criada livremente. Os dois acabam sendo capturados por um garoto pequeno que, com a ajuda de uma cacatua, os rouba para um grupo de contrabandistas de animais. Todos moram em uma grande favela, e os mil barraquinhos da favela são mostrados até a náusea...

Os pássaros conseguem fugir dali, e libertar todos os outros, justo em um dia que tem jogo de futebol na TV, e já tem carnaval rolando na rua, e eles passam por uma praia, onde há vários macaquinhos que roubam as joias dos turistas... As araras estão presas por uma corrente, então são ajudadas a se soltar por um cachorro que tem um desmanche de carros. O cachorro se fantasia de Carmem Miranda no Carnaval. O menino que ajudou a roubar os pássaros também ajuda a salvá-los, já que ele só está no crime por ser órfão e pobre... No fim, claro, tudo acaba bem, as duas araras são salvas pelos cientistas, se reproduzem, os cientistas acabam juntos, e sabe lá se adotam o menor envolvido no crime, ou se apenas o colocam para trabalhar, com beeeeeeeeeeeeem menos de 16 anos, no centro de preservação de ararinha azul que fundaram... Tudo isso, claro, ao som de Tom Jobim, Jorge Bem, Sérgio Mendes...

Vejamos, então, a imagem do Brasil lá fora: tráfico de animais em extinção, favela, carnaval (mulher quase sem roupa), futebol, praia (mais mulher quase sem roupa), menores trabalhando para criminosos, desmanche de carros, macaquinhos ladrões (?!), trabalho infantil... e música de alto nível. Mas mudou muuuuuuuuuuuuito, não foi? Para mim, a serem juntadas a imagem de um típico pássaro brasileiro, malandragem e Rio de Janeiro, ficávamos com o Zé Carioca, da Disney, que ao menos tinha a desculpa de ter produzido a ideia em mil novecentos e antigamente. Se alguma coisa está mudando na imagem do Brasil lá fora, não é graças a esta animação, que nem tem tantas cenas fofinhas assim, acredite! Ainda bem que não fui ver no cinema.

Acabou a noite de sábado? Nããããããooooo. Depois deste filme, veio um de Sylvester Stallone (va bene que deste a gente não espera mesmo nada de bom) chamado "Os Mercenários", em que ele junta vários porrudos de Hollywood numa gang de mercenários, e eles vão invadir "uma ilha latino-americana dominada por um ditador militar" para derrubá-lo do poder. Te lembra o que os EUA gostariam de fazer com algum país?

Bueno, vamos voltar alguns dias atrás e mudar de assunto. Vamos falar das benditas sacolinhas plásticas, que eu, em outros textos, já defendi como um direito do consumidor a ser levado para casa junto com as compras, já que costumam ser usadas para colocar o lixo por uns 80% da população brasileira ou mais, porém vêm sendo tratadas há tempos como o inimigo público número um. Se for para serem substituídas por algo, deveria ser por sacolinhas também de plástico, pero biodegradável, cujo preço já deveria estar embutido nas compras, assim como os destas sacolinhas atuais estão. Pois bem, São Paulo está dando a largada no que creio que vai ser uma das maiores sacanagens contra o povo brasileiro, especialmente contra os pobres, só para variar: as sacolinhas biodegradáveis são cobradas a parte. Beleza. Tem uns e outros que aparecem na TV dizendo: ah, eu não ligo de ter sacolinha, coloco tudo em uma caixa, que coloco no carro, e tudo bem. Que-ri-dos: isto poderia ser feito por vocês desde sempre. Sacolinhas são feitas especialmente para pessoas que NÃO TÊM CARRO (acredite, elas existem!) e precisam carregar as compras na mão, por vezes por muitas quadras.

Outros, completamente fora da casinha, não cansam de sugerir que alguém (a mulher da casa, por suposto, que não tem mesmo nada que fazer) monte vários pacotinhos de jornal (quem, sem ser jornalista, lê jornal de papel hoje em dia, a ponto de ter sempre um exemplar a disposição???) e coloque o lixo nestes pacotinhos. Se furar, alguém terá que limpar toda a sujeira (a mulher, de novo, por suposto)! Se você der sorte de não rasgar, eles deverão por fim ser colocados em sacos de lixo grandes, daqueles pretos, que são, estes sim, muitíssimo prejudiciais para a natureza, mas você tem o direito de fazê-lo, afinal pagou pelo saco de lixo, não? E pela sacolinha, decerto não pagou. Decerto o preço dela não está incluído nas compras. Por isso, a nova sacolinha, biodegradável, será cobrada. E os pobres, que mal têm dinheiro para as compras, vão ter que desembolsar por elas o dinheiro de alguns pães por mês. Isto se não preferirem levar para casa, por um valor maior, as sacolas retornáveis. Tanto umas quanto outras com o nome do estabelecimento, do qual o consumidor sairá fazendo propaganda e pagando por isso.

Tirante toda a sacanagem dos que têm muito sobre os que têm muito pouco, que já não é nenhuma novidade, há que se dar algum destaque ao que há de novo neste suposto comportamento ecologicamente correto. Ele está visivelmente conectado ao que muitos, erroneamente, chamam de feminismo ecológico. Esta linha de ação e pensamento não é ecológica, muito menos feminista. Senão, vejamos: propõe que sejam usadas fraldas de pano; que a comida seja toda preparada em casa; que se evitem as sacolinhas de plástico... Assim, vamos gastar litros e litros de água limpa preciosa lavando fezes e urina; vamos gastar quantidades imensas de combustível preparando separadamente, em cada residência, cada naco de comida que formos levar a boca; vamos deixar de usar sacolinhas plásticas (na sua maioria brancas) para colocar o lixo, e ao invés disso vamos usar os super poluidores sacos de lixo pretos. Bela ecologia!

E onde está o feminismo em responsabilizar as mulheres pela salvação do mundo e da espécie, sugerindo que assumam mais um zilhão de tarefas, ao invés de exigir que os responsáveis produzam fraldas descartáveis biodegradáveis, assim como as sacolas plásticas, e que se elimine dos alimentos industrializados todos os componentes nocivos à saúde? Dai a César o que é de César, a Deus o que é de Deus, e a nós mulheres dai soluções e paciência, que a nossa já foi para o saco (de lixo, plástico).

Por fim, quero falar um pouquinho da novela Fina Estampa, de Aguinaldo silva, que passa às 21 e tantos na Globo, e das incongruências de alguns personagens bacanas. Os personagens seriam René, chefe de cozinha, descendente de uma família rica e falida, que troca a perua Tereza Cristina pela trabalhadora Griselda, e a própria Griselda, que trabalhou a vida toda como "faz tudo" para sustentar os filhos sozinha, até ganhar na loteria e abrir uma loja de materiais de construção com uma turma de "faz tudo" do sexo feminino.

A cena que me deixou "bem feliz" com René ocorreu justamente no dia em que ele saiu da casa de Tereza Cristina, e se dirigiu ao filho, menor de idade, na puberdade, a quem ele sempre deixa claro considerar uma criança, e disse: "Não esqueça que agora é você quem manda aqui". Ora, *# e ***! Já seria péssimo se ele dissesse a estúpida frase, extremamente comum em filmes, novelas, e decerto na vida real, que os homens costumam dizer aos filhos machos quando vão embora de casa por algum motivo: "Agora você é o homem da casa", ou a outra, pior, mas ainda não tão horrível: "Agora você precisa cuidar de sua mãe no meu lugar"! Não! Foi: "Agora é você quem manda aqui"! Ou seja, para um homem que não tem problema em usar bolsa, ganhar a vida fazendo comida, namorar uma mulher a quem os inimigos chamam de "bigoduda" e "machorra", externar o estúpido estereótipo de gênero de que o filho que nem entrou na adolescência deve assumir o comando da casa com sua saída, apenas por ter nascido com algo balançando entre as pernas, é de amargar! Tá legal: a mãe do guri é doida de pedra. Mas ou bem ele leva o filho para viver com ele, ou bem ela, que é a adulta em questão, além de ser dona da casa e de tudo o mais, é quem vai assumir as rédeas, que aliás, nunca estiveram nas mãos do marido de fato. Enfim, é uma frase totalmente impossível de imaginar na boca deste personagem. Furo do deus-pai-todo-poderoso-escritor-da-novela.

Outro, de matar igualmente, foi a aceitação, por parte de Griselda, de que uma das mulheres que ela treinou para trabalhar como "faz tudo" em sua loja, tenha cortado a calça do uniforme quase na altura das virilhas, e que use de todas as armas possíveis para seduzir os clientes, quando ela mesma sempre exigiu respeito, e nunca permitiu que abusassem dela por ser mulher. Se Griselda existisse de fato, Deborah não teria a menor chance de trabalhar com ela.

Para terminar meu texto de vez, não posso deixar de chamar a atenção para uma cena entre Griselda e a ex nora Teodora, na qual esta última havia começado a trabalhar em um hotel, como camareira, para conseguir a guarda do filho, criado pelo pai e a avó (Griselda). A ex sogra faz um discurso de que ela poderia limpar quantas privadas quisesse, e jamais conseguiria a guarda do filho, que ela abandonou com o pai, etc., etc. Ora, já deu para a bolinha de todo mundo esta história de que "limpar privada" é castigo, como costuma aparecer nas cenas de presídio (e outras mais) das novelas, e como não deixou de rondar nestas cenas iniciais de Teodora trabalhando pela primeira vez na vida.

Chega de desqualificar o trabalho braçal, de desqualificar o trabalho doméstico, de desqualificar o trabalho braçal feminino, que em muitíssimos casos é de limpeza. Felizmente, desconheço pessoas que nunca tenham limpado uma privada ao menos uma vez na vida. A não ser que não o tenham feito por alguma deficiência física, devem ser pessoas realmente intragáveis, do tipo que não fazem muita falta no mundo. E eu aposto que a maioria esmagadora das pessoas que assistem as novelas da Globo, já limpou e vai limpara ainda, muita privada. Porque defecar é humano, chafurdar na sujeira é coisa de porcos, e dinheiro para pagar alguém para lavar a privada, e fazer todo o resto do serviço doméstico, são poucos que têm. Claro que é um serviço feito na maior parte das vezes pelas mulheres. E que são elas a maioria dos que assistem este tipo de programa. É hora dos autores de novela lembrarem disso de uma vez por todas.

Ufa, ficou enorme, né? É o que dá "ir guardando assunto"... Obrigada a você, que leu até o fim!

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