segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Enquanto as bombas caem em Gaza

Por Raul Fitipaldi

Desde que começaram as primeiras escaramuças na Tunísia, leio com certo desconforto, que muitos colegas começaram a enxergar revoluções atrás de postes, na fila da padaria e no canto das torcidas organizadas. Ora, que difícil é para nós entendermos minimamente o que acontece no meio oriente, e com que cota de esforço tentamos nos separar da mídia dominante, e lembrar que no meio disso tudo o exército israelense continua bombardeando Gaza; que as potências de ocidente têm com o mundo árabe todo o mesmo instinto que já tiveram com o Iraque.

Por momentos, nós, euro-centristas deslavados, viramos "árabes" desde a nossa mais cândida infância. Estas noites me remoí pensando como circulamos em volta dos mantras dos meios desinformativos de dominação, cantando-os como se fossem o anúncio natalino da Coca-cola. A digna e antiga luta do povo árabe não pode ser tratada como um espetáculo virtual ou um show mediático. Queremos esquecer que no Oriente Médio também a crise estrutural do neoliberalismo está levando os povos às ruas? Que a chama mobilizadora é o desemprego, a fome e a ruptura de contenção da arruinada Europa?

Observo, por enquanto, com as reservas de quem não entende nem línguas nem costumes, que não parecem manifestações originadas no Departamento de Estado ianque, mas, que também não se trata de processos revolucionários. É verdade que ocidente quer se montar encima da mobilização do povo para tirar seus benefícios e corrigir o rumo desconhecido destes protestos que abalam as estruturas muito podres do capitalismo árabe. Mas também não há, ao menos a simples vista, menhum processo revolucionário (e nem toda e qualquer mobilização popular, por mais gigante que ela seja e por mais legítimos que sejam os reclamos que a inspirem, é um movimento revolucionário).

Até o aparente efeito dominó parece difícil de comprovar. Mais do que um contágio, o que transparece no cotidiano dessas mobilizações é um desgaste estrutural do neoliberalismo, o que pode levar a um reajuste do modelo, segundo cada país, ou a um aprofundamento da crise de modelo que terá várias e duras etapas, de acordo com as específicas condições daquelas sociedades. Quem sabe revolucionárias no sentido latino-americano, revoluções incipientes as nossas, que os setores mais dogmáticos da esquerda não costumam aceitar como tais (parece que faltam as receitas e as bulas tradicionais).

A disputa entre uma Mudança dentro da Hegemonia Neoliberal ou uma Mudança de Época enquadra as expectativas de leitura sobre os fatos acontecidos no mundo árabe. Correrão águas que terão muita sujeira interpretativa antes que as clarezas das reivindicações criem as condições para saber se assistimos a uma simples época de mudanças e de ajustes próprios das crises cada vez maiores do sistema ou, ao início de uma nova época no Oriente Médio que venha a criar uma condição política e econômica refundancional que supere a atual organização da sociedade, criando mecanismos de justiça e distribuição da riqueza, que respeitem a cultura da região e liberem os explorados.

Se a substituição dos líderes dos processos que há décadas estão no poder implica um desgaste dos líderes é uma coisa, se supõe um desgaste de modelo é bem outra. Então, é salutar ser moderado e se inclinar por avaliar cada passo dos conflitos e das mobilizações, compreendendo que o fator econômico é o centro eixo da mobilização e não aspectos culturais, religiosos ou de visão ocidental da democracia, ou como se lhe queira chamar ao procedimento pelo qual mudamos os nomes e consolidamos os modelos.

Não desejo nestas linhas, e não é por oportunismo nem abandono, discutir caso a caso, apenas quero estender minha impressão de que há mais uma crise do modelo neoliberal em curso. Que há mais uma disputa regada de petróleo e de pontos estratégicos no Planeta. Que há mais uma história mal contada que se avoluma a cada dia em torno da mídia situacional e, pior, que há muita ansiedade da mídia crítica e alternativa, em olhar desejos legítimos como realidades consumadas. Quero enfatizar que poucas vezes houve tanto para narrar e nunca esse tanto, foi tão difícil de entender e avaliar. Parece-me hipócrita e desnecessário sair cantando louvor a umas revoluções que não consigo enxergar, e também grotesco, dar o aval a todas e cada uma das versões que a mídia do sistema nos injeta minuto a minuto. Nem quero ser moralista só com a ladroagem dos governantes árabes e esquecer a pilantragem diária dos bancos mundiais, ou das fortunas desviadas do Brasil que enchem os paraísos fiscais? Toda fortuna tem que voltar às mãos dos produtores da riqueza: os trabalhadores. Não posso nem devo aplaudir os inflamados discursos de Obama e Sarkozy. São Nossos Inimigos, nunca esqueçamos que se trata da voz do invasor. Só desejo como jornalista e como ser humano que nossos irmãos árabes encontrem, para cada país e para cada reclamo, a solução necessária para que aquela parte estupenda do planeta tenha justiça social, liberdade e soberania comunicacional, o que já a tornaria bem mais democrática que a Velha e podre União Europeia. E que caia quem tem que cair quando quem se levanta é o Povo explorado.

Para concluir, confesso ao leitor que me sinto mais à vontade com aquilo que melhor posso compreender, por isso, não relevo de transcendência conjuntural, por enquanto, a luta dos trabalhadores de Ohio, Wisconsin e Indiana, que ocuparam vigorosamente as ruas nestes dias, e menos ainda, a luta histórica do Povo Palestino, que embora não o vociferem a cada momento a Globo e a CNN, tem sido bombardeado como sempre esta semana, pelo exército israelense, sócio e parte do Império ocidental em Oriente Médio.

Militância comunicacional cresce e se aprimora

Por Raul Fitipaldi

2011 vem rico em mudanças e com renovadas perspectivas para a comunicação e o jornalismo alternativo em Santa Catarina. A Agência Contestado de Notícias Populares – AGECON, mudou o desenho da sua página dando a ela mais leveza, mais facilidade de busca e uma melhor apresentação de conteúdos. Acresceu o sítio de relacionamento Twitter e, dentre outras novidades, agregou o espaço Poesia em Luta. Além da beleza, tem a capacidade aumentada de informar, educar e mobilizar. e o aprimoramento na compreensão de que a Soberania Comunicacional começa a transitar-se por dois vetores fundamentais: a capacidade da comunidade de se apropriar dos meios de relacionamento e socialização tecnológicos, e a vontade militante dos jornalistas profissionais e educadores em exercer a tarefa fundamental da distribuição da produção do conhecimento e a informação, de forma verdadeira e compreensível.

Nestes meses então há novidades em todo esse novo espectro informativo que se apresenta como Rede Popular Catarinense de Comunicação – RPCC. Sigla coletiva que começa a se desenvolver contra os tsunamis da mídia monopólica e uniformizadora. Esse clima iniciado com o último livro da historiadora Urda Klueger, maior postadora de notícias da Rede: “Meu Cachorro Atahualpa”, segue com o enriquecimento tecnológico de Portal Desacato e a parceria deste com a Revista Pobres & Nojentas, de modo a oferecer de forma gratuita ao leitor, por via virtual, a coleção da Revista de Classe que fará 6 anos este ano. Só os números que ainda estão na banca não formam parte da coleção virtual. Se alarga com o novo irmão gráfico, o Jornal Daqui, que faz a cobertura das informações e notícias das comunidades de Santo Antônio de Lisboa e região, na Capital do Estado. Este novo veículo conta com a prestigiosa direção do jornalista e historiador Celso Martins, que participa em vários veículos da Rede. Pobres & Nojentas também incorporou um novo sítio de relacionamento coordenado pela jornalista Marcela “Loura” Cornelli. O mesmo fez Desacato entregando a coordenação do sítio Twitter ao seu diretor Marco Arenhart.

Mas o esforço da Rede não pára por aí. Segue os caminhos abertos no 2º Encontro pela Soberania Comunicacional de 2010 e devolve a Honduras o carinho que ela nos proporcionou com a visita dos jornalistas Rony Martínez Chávez e Ronnie Huete. Com a sustentação tecnológica de Wilmar Frantz Jr. e a colaboração da Rádio Globo Honduras, a jovem colega do Portal Desacato, Larissa Cabral, partiu a Honduras, para, desde a Capital, Tegucigalpa, com a contribuição de vários colegas jornalistas hondurenhos, fazer desde este 1º. de março de 2011, a primeira experiência desde o exterior para a Rede, desde o Portal de comentários e notícias latino-americanas e mundiais da nossa Rede, com reportes diários da sua visita através do espaço: Diário de Honduras, por Larissa Cabral, no www.desacato.info.

É o aprimoramento na compreensão de que a Soberania Comunicacional começa a transitar-se por dois vetores fundamentais: a capacidade da comunidade de se apropriar dos meios de relacionamento e socialização tecnológicos, e a vontade militante dos jornalistas profissionais e educadores em exercer a tarefa fundamental da distribuição da produção do conhecimento e a informação, de forma verdadeira e compreensível.

Vem mais um sítio por aí (está no forno) e outros projetos de serviço comunicacional que estão em desenvolvimento. Uma parte disso está sendo construída em cada veículo da Rede e a outra, na militância de cada trabalhador da comunicação popular e do jornalismo, que não cessa em buscar a Soberania Comunicacional e a Liberdade de receber a informação sem a censura e a distorção dos monopólios.

A vida, essa estranha!

Por Elaine Tavares - jornalista


Outro dia um amigo me saiu com essa: “não há gente triste na internet”. E eu fiquei a pensar... Pois não é? As mensagens no twitter ou no facebook são sempre de alegria e dão sinais de que tudo está bem. A cerveja no fim da tarde, os amigos, o vinho, a pizza, os bichos, o sol, os sonhos, enfim... Tudo remete a coisas boas e felicidades. Mas então por que na vida real as coisas e as pessoas parecem estar em escombros? Estarão estes seres querendo criar um espelho irreal para mudar o real? Ou estarão tentando enganar a si mesmos com uma felicidade de plástico? Não sei! ... Eu é que não consigo embarcar neste universo de alegrias. Vejo tudo tão sombrio.


Há pessoas que circulam em volta de mim que já não conseguem enxergar beleza na vida. “A impressão é de que quando a gente era jovem conseguia suportar melhor os golpes. Agora, parece não haver esperanças...” Outras tentam desesperadamente encontrar um porto seguro onde ancorar suas promessas de amor. Outras não conseguem viver dentro de um mundo que se faz vazio, outras se emaranham num tempo em que parece não haver devir. Olho para os lados e o que vejo são almas em ruínas, tentando alcançar alguma margem, ainda que não saibam qual. O sólido se desmanchando no ar...


Seria o espírito do tempo? Estes tempos pós-tudo, sem sonhos ou utopias? Seria a certeza da mortalidade que se aproxima e se faz cada dia mais real, conforme vamos nos aproximando do crepúsculo? Será a perda efetiva da probabilidade de um mundo melhor? Ou a triste certeza de que o niilismo venceu e não há saídas para o último homem?


Não sei, mas tal qual já apontou Nietzsche, creio que nos faz falta a meninice, essa coisa boa e tola de pular amarelinha, girar peão, jogar cinco marias, brincar de queimada e de escolher-fita, diabo-rengo, batatinha frita, um, dois três. Creio que precisamos dar mais cambalhotas, fazer castelos na areia, dar muita risada, pisar nas poças de água. Temos de reencontrar a alegria, a despeito de tudo. O riso servindo como um pirilimpimpim mágico, desfazendo as brumas.


Outro dia vi na televisão uma reportagem sobre uma pesquisa que se faz desde há 15 anos nos colégios públicos. Ela revela que as crianças estão mais gordas, mais tristes, com menos energia. E por quê? Porque não existem mais campinhos onde jogar bola, porque não se brinca mais na rua, não se corre, não se gasta energia. As crianças vão para a escola de ônibus ou de carro, comem doritos, jogam vídeo game e falam ao celular. Na hora do recreio não pulam nem suam para não estragar o “modelito”. São pequenos adultos sem vibração, prováveis almas em escombros logo ali adiante.


Eu, que chego aos 50, diante das ruínas, começo a perceber que é hora de voltar a brincar. Chegar a casa mais cedo, correr com o cachorro, fazer peraltices, suar em bicas, tomar água pura. Meus cântaros se esgotam e eu preciso viver o dia. Sim, há que lutar pela tarifa zero, pela educação, pela vida digna, pela universidade, pela paz no mundo. Mas também há que virar cambalhotas e gargalhar. Porque não quero, na noite da vida, observar a minha e outras tantas almas em escombros. Quero ser capaz do riso, e que ele seja uma lamparina, ainda que bruxuleante, a indicar que, mesmo em meio às sombras pode-se encontrar a beleza. Tal como ensinam os navajos, a beleza aí está, em cima, embaixo, nos lados, em frente... Viver é caminhar na beleza. Mas, a vida, essa estranha, insiste em nos desviar!

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Uma palavrinha sobre as lutas no mundo árabe

Por Elaine Tavares - jornalista

Hesitei um pouco em escrever sobre o que ocorre hoje no mundo árabe. Tudo é muito distante de nós e as informações precisam ser muito bem checadas para não dizermos besteiras. Mas há coisas que são gritantes. Mais do que nunca o estudo feito por Chomsky há décadas se faz absurdamente real. É incrível como a mídia, de repente, descobriu que havia ditadores no mundo árabe. Do nada, essa palavra começa a pipocar em todos os jornais e revistas. Até então, para os meios de comunicação, ditador mesmo era só o Fidel, em Cuba. No geral, lá para as bandas do mundo árabe, eram todos amigos dos Estados Unidos e como lembra Chomsky, quando são os “amigos” os que cometem crimes, o tom das denúncias muda de figura. Gente ruim era a turma dos palestinos, dada a violência gratuita. Mas os homens do poder dos países árabes “amigos” eram tudo gente boa, democrática, que ofereciam vida farta ao seu povo. Quem nunca viu na “vênus platinada” os documentários sobre a Arábia Saudita ou Dubai? Só belezas! Kadafi, por outro lado, sempre foi mostrado como um “terrorista”, a exemplo do velho Arafat. É que eles não estavam alinhados ao governo estadunidense, logo, todas as suas sujeiras sempre receberam muita luz. Como já disse, Chomsky mostrou isso muito bem no seu livro “Os guardiões da liberdade”.

Agora, diante das mobilizações populares que questionaram vários destes governos sustentados há décadas pelo poder estadunidense, nas tramóias da ganância sobre o petróleo, a mídia começa a falar das sujeiras. Mas tudo muito rapidamente. A luz vai sendo colocada nas mobilizações e nas medidas imediatas que são tomadas para barrar os “banhos de sangue”. Diante dos fatos, o que mais se vê é o que diz o presidente dos Estados Unidos. “Obama exige que Mubarak renuncie”. Mas ora vá, que tem Obama a ver com isso? A Globo não explica muito bem. Por que motivo o presidente de uma nação vem querer cantar de galo em outra? Quais as ligações que unem esses seres?
Agora, a bola da vez é o Kadafi. Um homem que na década de 60 ousou falar de nacionalismo árabe, que afrontou os Estados Unidos e que deu outra dinâmica para a vida naquele espaço geográfico. Um homem que não se propôs a fazer na Líbia o socialismo sonhado por boa parte da esquerda, mas que tentou comandar seu país dentro da lógica da sua cultura e do seu desejo de ser livre. Outra dinâmica, muitas vezes incognoscível para nós, da cultura ocidental. Nos dias atuais, fala-se das suas excessivas ligações com países europeus e com multinacionais. Estava lá ele tentando manter seu país no jogo dos negócios mundiais. Coisa para analisarmos com mais cuidado.

Pois diante dos protestos que ocorrem agora em todo o país, no rastro de pólvora iniciado pelo povo tunisiano, Kadafi se vê ameaçado de invasão por tropas da Otan. E quem foi que deu essa idéia brilhante? Obama! De novo, o presidente de um país que invadiu o Iraque e matou quase sete milhões de pessoas, grande parte civis. Por que a mídia nunca reagiu com tanta veemência diante dos crimes dos EUA? Por que as gentes do Iraque não merecem o mesmo respeito que estão tendo agora o povo da Tunísia, do Egito, do Baheim? Em que o povo que luta desesperadamente pela liberdade no Iraque é diferente? Por que não vemos a mesma indignação nos olhos dos âncoras da TV quando os palestinos são massacrados diariamente? Por que as tropas da Otan não param Israel? Que interesses estão em jogo neste tabuleiro árabe? Creio que mesmo com as poucas informações que temos pode-se fazer uma análise mínima.

E a esquerda? Bem lembra Carlos Terán (num texto que pode ser encontrado no www.iela.ufsc.br), que a esquerda mais ortodoxa sempre se negou a ver como processo revolucionário o que aconteceu na Venezuela, na Bolívia. Por que agora esse povo se põe a saudar como “revolução, revolução” o que ocorre no mundo árabe? Sendo que, no geral, na verdade, praticamente nada está mudando, a não ser o nome dos governantes. Os projetos seguem sendo os mesmos.

Correndo o risco de ter de prestar contas à história eu me dou ao direito de observar melhor, com mais calma, estudando mais o modo de ser do mundo árabe, que é muito diferente do nosso. Mas sem nunca deixar de fazer as perguntas que precisam ser feitas. Nos anos 70 estive bastante ligada às propostas que vinham da Líbia, da Palestina, apoiando a luta daqueles que se levantavam para garantir soberania e outra forma de organizar a vida. Hoje, vejo com tristeza o desmonte de mais um reduto de resistência ao império estadunidense. Não tenho medo de usar a palavra revolução. Mas, espero que seja de fato, um processo de mudança o que está em curso.

A famosa democracia, tão incensada pelos Estados Unidos quando é para fazer com que as coisas sejam do seu jeito, não é modelo para ninguém. Vide Afeganistão e Iraque, onde as tropas estadunidenses implantaram a “democracia”. Votar a cada quatro anos tampouco é democracia. Essa palavra tão desgastada pede adjetivos e pede participação real dos povos. Derrubar um homem é coisa possível. Derrubar um jeito de organizar a vida é outra coisa. Até agora, as lutas populares que estiveram em alta no mundo árabe derrubaram pessoas. O sistema se mantém incólume. O que espero, com profunda reverência revolucionária, é que esta mesma gente seja capaz de mudar as estruturas. De garantir a participação real e cotidiana, de criar o novo. Aí sim, temos revolução!

Praia com 300 metros e sete focos de esgotos

“PRAINHA em PROTESTO”


Haverá neste fim de semana, domingo, 27 de fevereiro de 2011, mais um evento de protesto a favor do saneamento básico da Prainha do Farol de Santa Marta.

Nos dias 12 e 13 de fevereiro aconteceu o Iº Campeonato de Futebol Feminino do Farol de Santa Marta, categoria mirim e infantil onde foi realizada uma manifestação pacífica e divulgada na imprensa local e estadual.

Agora é a vez do Sub-25, jovens de 17 a 25 anos estarão jogando em manifesto pela mesma causa.

Será realizada mais uma manifestação com faixa e cartazes para as autoridades para solucionar o problema.

A impunidade e a falta de interesse sobre o assunto deixaram a Prainha imprópria para banho e uma ameaça “ao ar livre” a todos que usufruem do espaço.

Atualmente são sete focos de esgoto em uma extensão que não chega a trezentos metros.

O evento visa chamar a atenção da população e das autoridades para o problema e abrir a discussão para a solução.

“Com dois mil metros de cano resolvemos a primeira parte do problema que é coletar o esgoto e tirar da faixa de areia. Num segundo passo seria a implantação das estações de tratamento para tratar o esgoto antes de despejar”. Afirma João Batista Andrade presidente da ONG Rasgamar. “Os córregos pluviais estão sendo usados para despejar o esgoto "in natura" na Prainha desde o início da década de 80, nossos filhos não podem ir mais a praia”.

Segundo Batista, "fomos convidados pelos jovens a organizar um novo manifesto. Eles que tomaram a iniciativa e isso nos gratifica muito, pois sem envolvimento comunitário a solução fica difícil".

Um terceiro evento está sendo alinhavado para o mês de março com participantes de 35 a 55 anos, todos pescadores do Farol de Santa Marta, que estão se juntando à causa.

Será enviado convite especial ao prefeito de Laguna e ao presidente da CASAN para que ambos participem de uma mesa-redondacom o Conselho Comunitário do Farol de Santa Marta, a fim de tirar a proposta do papel.

Saiba mais: sosfaroldesantamarta.blogspot.com

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

P&N no Facebook

P&N com mais uma novidade! Agora estamos no Facebook, aos cuidados da nossa loira Marcela Cornelli. Faz uma visita e entra na nossa Rede de amigos!

P&N no Facebook: Pobres E Nojentas

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

FILMES DE CULTO

Samuel Frison

http://palavramundo-fsg.blogspot.com

O que leva uma pessoa a rever um filme ou ler um livro tantas vezes e transformá-lo num objeto de culto? Pergunto-me que essência contém tal filme ou livro que ressoa em tanta complicidade na pessoa que o cultua. Eis que novamente pus-me a ver 84 Charing Cross, traduzido no Brasil como Nunca Te Vi, Sempre te Amei. Confesso que assisti ao filme como se fosse pela primeira vez, como se estivesse descobrindo o primeiro amor e, encantado, deixasse-me levar pelo fluído da narrativa. Não é um filme Avatar, cheio de efeitos especiais. Foi produzido por uma quantia mínima.
A história é muito simples e aconteceu realmente: escritora solitária, apaixonada por livros ingleses antigos, mantém uma correspondência de décadas com livreiro inglês casado. Entre eles, surge uma amizade que transcende as fronteiras, somente pelo charme das cartas que um envia para o outro. Por isso a tradução Nunca te Vi, Sempre te Amei que acaba por entregar o final. Charing Cross é o nome de uma famosa rua em Londres onde ficava a livraria. Minha paixão por essa história foi tão grande que sabendo que um amigo iria a Londres, pedi para que fotografasse o endereço. Quando para minha decepção o prédio havia sido demolido, restanto apenas uma placa num local, onde hoje funciona uma fast food.
Em tempos de comida rápida, Nunca Te Vi, Sempre te Amei conta a história de gente muito simples, mas com singeleza: é um apenas que é muito. A escritora Helene Hanff (personificada com maestria pela maravilhosa atriz Anne Bancroft) e o livreiro Frank Doel (Sir Anthony Hopkins, em início de carreira, quando ainda fazia filmes bons). Não há reviravoltas mirabolantes, nem planos e sequencias inovadores. Há uma terna história, de uma amizade sincera, uma ode aos livros e à leitura, um convite à excentricidade e a complitude. Sempre fui fascinado pela vida dos escritores. Quando leio um livro, além de conhecer a história, procuro saber onde viveu o escritor, que obras lançou, quais eram suas ideias, que palavras semeou ao vento, onde era o seu espaço de criação. Helen Hanff, que viveu sua vida em Nova Iorque, gostava de comprar ou trocar livros antigos para além de lê-los, ver anotações e sentir o cheiros dos leitores que os possuíram. Era uma bibliófila, apesar dos poucos, mas cultuados exemplares que possuía em seu apartamento.
O quarto-sala onde vive Helene, no filme, é um reduto para mim. Gostaria de viver ali, rodeado de livros antigos, poder passear pelo Central Park, em Nova Iorque, com meu exemplar de Yeats embaixo do braço. Em certa sequência da película, sua melhor amiga, a atriz Maxime, traduz meus pensamentos, quando diz "se eu fosse um livro, gostaria de morar aqui!". Com o passar do tempo, a escritora se muda para um apartamento maior, não menos aconchegante, cercada de livros. O espaço criativo é o espaço das ideias. Pessoas excêntricas são as que admiro, pois são alternativas, diferentes, têm personalidade e marcam pela diferença, num mundo tão pasteurizado como o nosso. Os excêntricos são um antídoto para o tédio.
Outro charme do filme são as cartas. Elas chegam sempre com a promessa de um novo livro, mas também como forma de cumplicidade sobre histórias e autores. É com elas que a amizade de Helene e Frank se torna mais sólida, e se estende para a esposa dele, filhas e os livreiros da 84 Charing Cross. Saudades de receber a carta de um amigo. E-mails não tem o mesmo charme. Cartas vem com selo, envelope e papéis personificados. São sinestésicas, não há divisão entre emissores e receptores. Há o crivo da letra, o perfume do emissor, a força da expressão em linhas e a cumplicidade do destinatário.
Nunca te vi sempre te amei foi lançado oficialmente no ano de 1987. Vi-o pela primeira vez em 1991, ano que ingressei na universidade, num cinema que já não existe mais também. Naquele tempo os filmes levavam de seis meses a um ano para chegar ao interior. Por anos o acompanhei nas reprises das madrugadas da Globo, mais precisamente na Sessão de Gala. Nos anos 90, uma peça foi encenada no Brasil, reproduzindo o livro de mesmo nome, com Eva Vilma e Carlos Zara, no papel de Helene e Frank. Hoje o que resta dele é uma cópia rara em DVD e o livro, que encomendei pela estante virtual. Mas é reconfortante saber que ele está lá na minha estante e basta a saudade apertar para eu novamente deixar-me levar. Não vejo a hora de, novamente, reencontrar Helene e Frank.

O sentido do trabalho

Dino Gilioli, diretor do Sindicato dos Eletricitários de Florianópolis - Sinergia

Os defensores do sistema capitalista prometeram que com os avanços tecnológicos os trabalhadores teriam mais tempo para o lazer, para o ócio; enfim, para viver uma vida mais tranqüila e mais saudável. O que se observa é justamente o contrário. Raras exceções, os trabalhadores acordam mais cedo e dormem mais tarde para “dar conta” de suas responsabilidades profissionais, familiares. Isto não quer dizer que a tecnologia é algo mal ou bom por si mesma. O fato, é que devemos percebê-la sem nenhuma ingenuidade ou romantismo. A tecnologia, que tem contribuído para melhorar a vida das pessoas, é a mesma que tem provocado a extinção de algumas profissões, a redução de postos de trabalho e o aumento do desemprego. É a mesma que tem servido de instrumento, no atual sistema, para aumentar os ganhos financeiros de alguns poucos em detrimento do aumento da carga e do ritmo de trabalho para muitos.

O que se vê é mais gente levando tarefa para casa e carregando o celular até para o banheiro, isto quando não dorme com ele ao lado do travesseiro. Além disto, os famosos emails ganharam notoriedade e vida própria, nos finais de semana e em qualquer horário este recurso está à disposição dos “viciados” em trabalho, dos amantes da “produtividade”. Já que nos dizem que o tempo é precioso, não dá para perder tempo não é mesmo? Sim, o tempo é precioso, mas para quê e para quem? Temos uma agenda lotada, mas nem sempre a vida é cheia de sentido e, não raras vezes, o trabalho preenche um vazio ou – no mínimo, nos proporciona confortável fuga.

Qual o sentido do trabalho e que espaço ele deve e pode ocupar na vida? Como não vivemos para sempre, o importante é tentar aproveitar a vida e o tempo da melhor maneira possível; porque o resultado dessa correria toda só pode ser dores, ansiedade, esgotamento. Não por acaso, pesquisadores já identificaram diversas doenças relacionadas ao excesso de trabalho. Estresse, distimia, depressão e burnout são apenas algumas. Mas há também as chamadas doenças ocupacionais, que nem sempre são perceptíveis a olho nu. Tais doenças têm o poder de aprisionar o indivíduo, de calar sua expressão e provocar um sofrimento silencioso. A pessoa afetada perde aos poucos a capacidade de desempenhar tarefas simples e de se comunicar normalmente. Quando não levadas a sério, as doenças do trabalho podem incapacitar as pessoas para a profissão e para a vida.

Antes que o pior aconteça precisamos lembrar, como nos adverte Charles Chaplin, de que “não sois máquinas, seres humanos é que sois”. Não devemos ser escravo de ninguém e de nada, muito menos podemos tolerar uma sobrecarga, um ritmo de trabalho que extrai de nós o direito de viver com saúde, com mais dignidade humana. As propagandas, os apelos diários ao consumo, nos impelem a uma vida de aparência, de um “status” pré-estabelecido; remetendo-nos, quase sempre, a querer mais e mais, a adquirir coisas que – na maioria das vezes, não faz nenhum sentido. Pense nisto.


AGECON de Cara Nova!


O domingo de 20/02/11 ficará registrado na história da Agência Contestado de Notícias Populares – AGECON, pois marca o início da segunda etapa do fazer comunicacional, desse veículo de comunicação que tem como lema: “Comunicação a serviço dos Trabalhadores e Trabalhadoras”.

A primeira etapa se estendeu de 13 de abril de 2008, até a AGECON completar 60.000 acessos, registrados no ultimo sábado (19/02). Segundo João Leandro, responsável pela parte técnica da AGECON, “a primeira etapa serviu como um grande aprendizado, e agora que a AGECON está próxima de completar 03 anos de atividades, precisamos ampliar a qualidade do que estamos fazendo, por isso realizamos a renovação de nossa página”.

Os novos recursos no Portal da AGECON buscam facilitar o acesso à notícia. A página conta agora com recursos de vídeo, e também com conexão às redes sociais como o Twiter. O espaço “Poesia em Luta” é uma dessas inovações na maneira didática de debater idéias, pensamentos, notícias. A cara nova da AGECON, no entanto, não substitui os velhos desejos de transformação e mudanças necessárias para tornar a sociedade justa, humana, fraterna, solidária e igualitária.

Aproveite e confira as novidades do novo Portal da AGECON, acesse: www.agecon.org.br , entre no mural de recados, deixe seu comentário, sugestão ou crítica. Este espaço de comunicação está a serviço da classe trabalhadora.

Fonte: AGECON

Contatos: agecon@agecon.org.br

Visite: www.agecon.org.br

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Lembranças do futebol e de um mundo em ruínas

Por Elaine Tavares – jornalista


Em 2009 voltei a São Borja, numa viagem épica, com meu pai. Estávamos indo levar as cinzas da minha mãe, que sempre sonhara descansar nas águas do seu amado rio Ibicuí. São Borja não estava nos planos, mas foi quase impossível não parar. Havia mais de 30 anos que saíra dali para nunca mais voltar. Paramos na velha cidade para almoçar e matar a saudade, tudo estava como sempre fora. A velha praça, a igreja, o relógio do sol, as estátuas em bronze de Getúlio e de Jango. Fomos render homenagens a Maria do Carmo, a santa do povo, e depois decidimos ir até o Paso, bairro que dá passagem para a Argentina, espaço de muitas doces lembranças. Na velha curva que inicia o caminho para o bairro paramos num posto de gasolina. Eu estava distraída, meio melancólica. Então, num levantar de cabeça eu vi. Eram as ruínas do velho estádio de futebol do Internacional de São Borja. Jamais poderia imaginar que ainda existia.

Fui acometida de uma profunda emoção e pude então racionalizar todo o amor que eu tenho pelo futebol. Num átimo, me vi, guriazinha, cabelo armado, magricela, “patitas chuecas”, entrando naquele lugar agarrada à mão do meu pai. Ele era radialista e ia cobrir os treinos do Inter. Eu ia junto e enquanto ele trabalhava, eu ficava sentadinha nas velhas cadeiras de lata vermelha, absorvendo toda a magia do balão de couro dançando no campo verde. E quando havia jogo, lá estávamos nós, bandeira em punho, torcendo pelo Internacional. Era coisa de paixão, algo irracional e tanto que quando os clubes locais decidiram unir-se num só: o São Borja Futebol Clube, levei um bom tempo até voltar ao estádio. Não parecia haver a mesma magia. Agora, quase 40 anos depois, ali estava o velho estádio, em ruínas, a me evocar lembranças tão memoráveis.

Veio dali, daquele lugar sagrado todo o amor que sempre senti pelo futebol, e tanto que na vida de repórter, nunca negligenciei essa espaço da vida. Em Caxias, vibrando amorosamente pelo time grená, o Caxias e, depois, em Florianópolis, escrevendo momentos incríveis do Figueirense, o furacão do estreito, o qual é o dono do meu coração. 

Futebol sempre teve gosto de beleza, de paixão, de compromisso amoroso. E eu lembro a alegria profunda que me causava ver aquela correria louca no campo verde. Os dribles inauditos, as defesas fenomenais, os gols. Ah, os gols... Ainda guardo na memória as figuras do Cassiá, zagueiro dos bons, Paulo Taborda, Moisés. E a impressão que se tinha era de que cada um deles ali estava pela simples alegria de estar. Não havia ainda essa coisa do jogador-escravo, propriedade de empresas. Eles jogavam e se divertiam.

Todas essas lembranças me assomam ao ver o choro sentido do Ronaldo, ao se despedir do futebol. Esse garoto fenômeno que fazia loucuras com a bola, de chute potente, de dribles sensacionais. É triste ver o que fazem hoje com esses meninos. Descobertos ainda na infância, eles logo são vendidos a algum grande empresário e seguem na sua vida de escravos, fazendo só o que a empresa manda. Ultrapassam todos os limites corporais, usam todas as energias, arrebentam todos os tendões. São máquinas de fazer dinheiro. Alguns deles - como é caso do Ronaldo – ficam ricos. Mas são poucos. No geral quem enriquece são as empresas e os empresários. Mas, mesmo esses que ganham rios de dinheiro, ao final não podem fazer-se uma nova pessoa. Estão destruídos, e nem chegaram aos 40 anos. 

Ali estava o Ronaldo chorando e eu a lembrar de mim, do Inter de São Borja, das ruínas do estádio. Uma espécie de metáfora da ruína das gentes, estas que são vencidas pela ganância, pelo desejo do lucro. Ali estava o Ronaldo chorando e nenhum dinheiro do mundo podia lhe ajudar. Enquanto isso, em algum campinho do Brasil, os olhos gordos de empresários gordos, certamente espreitavam algum outro molequinho... Um molequinho que daqui a 30 anos talvez venha chorar na TV porque tudo o que tinha lhe foi tirado. Então eu me agarro a estas lembranças antigas, de um tempo em que o futebol era só alegria, cabelos ao vento, gol na rede. Um tempo em que as torcidas não matavam ninguém, ao contrário, ofereciam o ombro na derrota e o calor do aconchego. Mas isso já vai bem longe... Longe demais... Esse é um tempo em ruínas, tal qual o velho estádio do Inter de São Borja.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Xamã “deschamada”


Míriam Santini de Abreu

Quando eu era pequena, volta e meia o pai olhava para a cicatriz no meu polegar direito e dizia:

- Filha, um dia o pai paga uma cirurgia plástica para ti...

Acho que o pai tinha complexo por mim – coisa de pai – porque esse polegar é torto e esquisito, diferente do esquerdo, porque no direito havia um sexto dedo, que foi extraído quando eu tinha um mês de idade. Polidactilia é o nome dessa falha genética. O mais engraçado é que eu consigo entortar o polegar, como se ele estivesse quebrado, coisa que alguns amigos acham detestável quando faço, mas eu acho engraçadíssimo.

Pois agora me vem a nossa loira, a Marcela Cornelli, da equipe da P&N, que esteve no México, revelar um fato abismante! Ela esteve no Museu da Medicina Maia, na cidade de San Cristóbal de Las Casas, em Chiapas, mantido por médicos que usam a medicina maia nas comunidades, inclusive nas zapatistas.

Lá ela fotografou um painel, este acima, que diz que pessoas com seis dedos na mão e no pé são designadas para serem curandeiras. Os dedos a mais são sinais.

Descobri que nasci meio curandeira, porque havia dedo a mais só na mão, e cortar o pobrezinho tirou-me a chama do dom da cura!

Que fazer... Sobrou apenas a cicatriz, que felizmente se curou!

Uma chance em mil

Presente para uma amada amiga febril num dia de chuva:

http://www.youtube.com/watch?v=hbgCNXnZJ5o

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

PRIMEIRA RETRANSMISSÃO DE TELESUR EM DESACATO, AO VIVO!

Hoje, por primeira vez, o Portal Desacato retransmitiu AO VIVO, com ótima qualidade de áudio e imagem, a TeleSUR. Mais um avanço possível graças ao esforço de companheiros de Floripa, República Dominicana e Honduras.
Vamos lá, cada dia um passinho, agora festejando juntos com o povo egípcio.

A VIDA, QUANDO OLHADA DE FRENTE, DÁ VONTADE DE CHORAR.


Kasimir Malevich e a esfera negra

Nelson Rodrigues


600 milhões de pessoas no mundo inteiro vivem em favelas nos arredores das grandes cidades.

No mundo, mais de 300.000 crianças, meninos e meninas, são soldados. Muitos deles têm menos de 10 anos.

Mais de um bilhão de pessoas não dispõe de decentes condições de vida.

Numa catástrofe natural, o número de mortos em países em desenvolvimento é 47 vezes maior do que em países desenvolvidos.

Metade da humanidade vive com menos de 2 dólares por dia.

1 em cada 5 crianças não vai à escola. Um terço da superfície terrestre sofre de desertificação.

A indústria alimentar gasta 40 trilhões de dólares por ano em publicidade.

A água insalubre provoca 5 milhões de morte por ano.

A espessura média da camada do gelo ártico passou de 3,2 m na década de 1960 para 1,8 m na década de 1990.

As emissões de CO2 produzidas pelas atividades humanas são responsáveis por mais de 60% do aumento do efeito estufa.

70% da água doce são usados para irrigar a terra cultivada e 80 países, ou seja, 40% da população mundial, sofrem de grave escassez de água.

A população mundial aumenta mais de um milhão de pessoas por semana.

Por ano 500.000 crianças ficam cegas por falta de vitamina A.

Para fabricar um computador são necessárias 8 a 14 toneladas de matérias primas não recicláveis.

40 milhões de pessoas morrem de fome por ano num mundo que produz 356 quilos de cereais por pessoa.

Um em cada cinco adultos no mundo não sabe ler ou escrever. Desses 90% vivem em países em desenvolvimento e dois terços são mulheres.

A quantidade de petróleo consumida em 6 semanas, metade da qual é usada em transporte, teria durado um ano inteiro em 1950.

Duas espécies desaparecem por semana no mundo inteiro.


40% da população mundial não têm eletricidade.

Uma em cada três crianças com menos de cinco anos sofre de subnutrição.

No século passado a população aumentou 3 vezes, o consumo de água no mundo aumentou 6 vezes.

20% das pessoas que vivem nos países mais ricos consomem 60% da produção de energia comercializada no planeta.

90% da população mundial nunca fizeram uma chamada telefônica.


O total de despesa militar no mundo atinge 794 bilhões de dólares e a ajuda pública ao desenvolvimento totaliza 58 bilhões de dólares.

La force des Femmes*



*A força das Mulheres


Osíris Duarte, de Dakar, para sindicatos de SC

O Fórum Social Mundial têm comprovado a força da organização civil. No Senegal esta constatação mostra reforço todos os dias. Apesar deste fato, um segmento em específico chama a atenção: as mulheres. Com espaços específicos de debate sobre feminismo, liberdade em contextos religiosos conservadores e machistas e organização pelo avanço dos direitos das mulheres, "les Femmes" têm tomado conta dos focos de debate em Dakar. Mulheres de todas as partes do globo circulam pelas ruas com uma altivez merecida, já que hoje elas representam a maior parte da força organizada na maioria dos países do mundo. Essa afirmação pode ser comprovada em uma volta rápida pelas ruas da Universidade Cheikh Anta Diop de Dakar, onde de longe se pode notar que a maioria das organizações contam com um número maior de mulheres no seu corpo gestor. Também pode-se notar que, proporcionalmente, o número de organizações voltadas para a luta das mulheres pelo mundo é maior do que qualquer outro segmento.

Um exemplo de uma das tantas mulheres que lutam por liberdade, não só "delas" como de todos, é Audrey Dye, uma francesa que mora na Bélgica e trabalha pelo "perdão" - se é que podemos assim chamar - da dívida externa dos países pobres do globo. Durante uma breve conversa o jornalista passou de entrevistador a entrevistado, pois Audrey fez questão de "testar" os conhecimentos do repórter brasileiro em relação a geopolítica, economia e direitos humanos. Sua primeira pergunta foi a respeito da crise financeira, suas razões e repercussões. Partilhando o entendimento dos movimentos sindicais e de militantes sociais, chegamos ao consenso de que a crise é uma invenção do Capital para manutenção de políticas de exploração e retirada de direitos trabalhistas. Sei que não descobrimos juntos a roda, nem inventamos uma nova interpretação sobre o tema, mas corroboramos com uma opinião que têm implicações interessantes na construção de um novo olhar para a atual conjuntura global em termos de polícas econômicas e sistemas políticos.

Além da Franco-Belga, Sebegalesas, Tunisianas, Panamenhas, Espanholas, Egípicias e outras tantas mulheres de todas as nacionalidades demonstram um grau de conhecimento sobre diversos temas que deixam muitos homens no "chinéeo". Um outro exemplo interessante é que, assim como em muitos países, os bancos facilitam o ascesso ao crédito somente para as mulheres. Segundo as senegalesas, isso acorre porque os banqueiros confiam mais nas nelas, pois os homens - nem todos - gastam o dinheiro com bebida, jogo e... mulheres! Como responsáveis históricas pela criação dos filhos e gestão do lar, as mulheres têm se tornado o principal alvo de políticas de acesso ao crédito e fomento ao consumo.

Uma reunião do Comitê de mulheres sindicalistas abordou justamente esse tema, além das bandeiras do feminismo. Com um olhar mais sensível e capacidade maior de administração, elas representam um futuro menos opressor. Quando Che Guevara disse: "ai que endurecer sin perder la ternura", talves ele se referisse às mulheres, ou talvez, quem sabe, ele tenha se inspirado nelas.

Jornal e site serão lançados sábado no Engenho dos Andrade

DAQUI Jornal e DAQUI Web farão cobertura do

distrito de Santo Antônio de Lisboa e arredores

Dois veículos de comunicação do distrito de Santo Antônio de Lisboa serão lançados neste sábado (12.2) no Engenho e Casarão dos Andrade, com a presença da banda Gente da Terra, os músicos australianos Carl Cleves e Parrisa Bouas, e o artista Valdir Agostinho, além de projeção de fotografias e exposição de artes. Tudo isso será regado com caldo de feijão, cachaça artesanal de Ratones, sucos e pirão d’água com lingüiça, incluídos no custo do convite (R$ 20,00).

O DAQUI Jornal começa com oito páginas em cores, tiragem de três mil exemplares e circulação no distrito de Santo Antônio de Lisboa (Sambaqui, Barra do Sambaqui, Santo Antônio, Barreira, Caminho dos Açores/Praia Comprida, Cacupé), chegando ao Saco Grande, Ratones, Daniela e Praia do Forte. O segundo veículo é o site DAQUI Web, noticioso, com atualização diária, apresentando uma extensa lista de serviços e links dos blogs e sites da região.

O projeto é de responsabilidade da empresa DAQUI Edições, criada para viabilizar a iniciativa pelo jornalista e historiador Celso Martins (coordenação editorial) e a cantora e acadêmica de jornalismo Joana Cabral (coordenação comercial). A artista visual Helena Rodrigues atua por enquanto como contato comercial, com o apoio direto de entidades comunitárias e lideranças locais.

Programa musical

20h – Gente da Terra.

21h – Ato de lançamento.

21h30 – Carl Cleves e Parrisa Bouas.

22h – Banda de músicos uruguaios.

22h30 – Valdir Agostinho

Local

Engenho e Casarão dos Andrade. Caminho dos Açores/Praia Comprida, 1180 (Santo Antônio de Lisboa, Florianópolis-SC.

Início

20 horas

Atividades

Projeção de fotos de paisagens da região e exposição de obras dos artistas Cláudio Andrade e Neri Andrade.

Alimentos e bebidas

Caldo de feijão, cachaça artesanal de Ratones, sucos e pirão d´’agua com lingüiça (incluídos no convite), mais cerveja com venda à parte.

Mais informações

Celso Martins (3335 0200)

Provérbio etrusco:

"Quanto mais sombrios,

mais próximos da divindade estamos".

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Na luta pela libertação, somos todos egípcios!

Florianópolis realiza Ato Público em solidariedade ao povo egípcio e pela autodeterminação dos Povos!

Dia: 15/02/2011 - terça-feira

Hora: 17 horas

Local: Esquina Democrática - rua Felipe Schmidt esquina rua Deodoro - Centro - Florianópolis

As revoluções dos povos Árabes
Furacões para a ditadura.... Brisas para a democracia e liberdade

Por Khader Othman - kaderothman@hotmail.com

Comitê Catarinense de Solidariedade ao Povo Palestino

Os ventos revolucionários que sopraram no mês passado na Tunísia fizeram seu ditador, Benali, fugir do país. Covardemente fugiu. O poder agora está com uma Frente Progressista que produziu, organizou e administrou o estado revolucionário na Tunísia, formação que se deu durante o ditadura de Benali. Foram ventos que atravessaram as turbulentas águas da Tunísia, chegando sãos e salvos na margem da democracia e liberdade.

Os mesmos ventos revolucionários assopram agora sobre Egito. Arrancaram a casca que escondia um ditador, brotando no lugar uma organizada e madura frente de libertação liderada por jovens que nasceram durante a ditadura. Viveram e sentiram, com experiência própria, que este modelo falido não leva a progresso nenhum. O regime está tão podre que não adiantam mais reformas ou emendas. Esta ditadura que perdura na contramão da história, leva o Egito ladeira abaixo. Nos últimos 30 anos o Egito ficou em primeiro lugar no mundo árabe no ranking da emigração de jovens. Milhares de jovens tiveram que sair do seu país por falta de emprego, perdendo assim energia e mentes lapidadas para servir em outros países.

Durante 30 anos este regime ditador deixou o Egito em um desfalque enorme de moradias populares, revelando que o regime não tinha nenhum interesse na solução de moradias para o seu povo. Os cemitérios mostraram a maior disputa no meio da população pobre, pois lá, vizinhos de cadáveres, não se paga aluguel e não tem ordem de despejo.

Enquanto esse cenário obscuro progredia, também progredia a situação financeira do chefe do regime, o ditador Hosni Mubarak e seus capangas, uma equação injusta... Sua fortuna subiu de zero em 1980 para 70 bilhões em 2011, ou seja, dentro dos 30 anos enquanto ele manipulava o poder.

Mas, por 15 dias a Praça TAHREER faz valer o significado de seu nome, traduzindo , significa LIBERTAÇÃO, são os ventos revolucionários embalando os rebelados egípcios!! Admiramos como esses revolucionários egípcios se manifestam e se organizam! São mais de três milhões de pessoas, cotidianamente, realizando protestos de forma ordeira e organizada. Utilizando a mídia, internet, comunicações alternativas, gente de todas as classes sociais unidas no grito e nas tarefas.

Há os responsáveis pela limpeza, outros pela distribuição da comida, têm o grupo de médicos cuidando dos feridos, têm aqueles responsáveis pela distribuição da medicação, enfim, todos realizam suas atividades e tarefas com a maior obediência e satisfação. Cabe aqui contar o que aconteceu na quinta feira, quando surgiu boato de que os tanques do exército iriam acabar com as manifestações. A reação foi à altura dos ventos revolucionários... Foram destinado vários homens para dormir embaixo da esteira do tanque paralisando assim sua movimentação!

A revolução da Tunísia tanto quanto a revolução Egípcia pegaram o ocidente de surpresa, pois ninguém imaginava algo nessa proporção, desconsiderando assim o potencial da mudança dos dois povos, resultando em declarações confusas sobre os acontecimentos. Alguns líderes ocidentais, com mentalidade colonialista, negam a condição de um árabe em praticar corretamente a democracia ....esquecem eles que a democracia é originária da Grécia antiga, não americana e nem européia.

Nós nos orgulhamos da diversidade do povo brasileiro! Imaginamos o dia em possamos nos orgulham da diversidade internacional! Quando houver uma real democracia que abrace a todos.

E difícil para ocidente, com sua política capitalista e imperialista, entender as mudanças no mundo árabe ou islâmico. É necessário modificar sua visão, para entender e aceitar o árabe como ele é, produto da sua cultura e sua civilização.

Duas grandes divergências azedaram as relações do Ocidente com o mundo árabe e islâmico. A primeira: a posição injusta de adotar dois pesos e duas medidas na questão palestina. Somente os Estados Unidos utilizou 37 vezes o direito de veto quando o Conselho da Segurança da ONU iria condenar Israel por seus crimes praticados contra os palestinos e árabes. A segunda: a demagogia praticada pelo ocidente. Com pregações de liberdade e democracia na mídia internacional, se comporta sustentando e apoiando politicamente as ditaduras do Oriente Médio.

Os ventos revolucionários significam furacões para as ditaduras, para o sionismo, para o capitalismo e o imperialismo.... Mas são brisas para a autodeterminação dos povos, para a democracia e para a liberdade!

Conflitos no Egito e na Tunísia e os desafios de uma cobertura inusitada


Osíris Duarte, de Dakar, para Sindicatos de SC

As barreiras impostas pela comunicação tendem a se diluir quando há disponibilidade de diálogo. A comprovação disso foi a entrevista feita na tarde dessa quarta-feira, dia 9, com um representante de uma ONG egípicia e uma estudante de arquitetura tunisiana. Feita em três línguas - francês, árabe e inglês - com a colaboração de jornalistas canadenses, a conversa esclarecedora demonstrou o quão importante é estar disponível e aberto para entendimento mútuo, botando por terra barreiras políticas e fronteiras.

A proximidade geográfica do Senegal com o Egito e com a Tunísia facilita a vinda de representantes desses países ao FSM. Todos os dias há protestos e mobilizações de representantes desses países pelas ruas do campus da universidade de Dakar.

Foi em uma dessas mobilizações que surgiu a oportunidade de entrevistar Mohamoud El-Adawy, representante do Centro de Desenvolvimento para Consulta e Treinamento, uma Ong da cidade do Cairo. Quando perguntado sobre qual é a atual perspectiva do povo egípicio na luta pela queda do regime imposto pelo presidente Hosni Mubarak, Mohamoud afirma com convicção que a única perspectiva aceitável é a queda de Hosni. Essa afirmativa reforça o quanto o povo egípicio está firme na luta contra o atual regime. Mohamoud também reforça o quanto os egípicios estão unidos. Ele diz que na terça, dia 8, um protesto encabeçado por jornalistas egípicios para anular uma reunião ministerial se transformou em mais uma grande manifestação popular.

Com um sorriso que espressava tristeza, o ativista egípicio diz que o atual governo é estúpido porque toma decisões que vão contra a vontade do povo, e isso que tem sido o principal motivo para as constantes manifestações. Com as restrições políticas no país, todos os partidos de oposição migraram para uma nova forma de organização em busca de reaver poder político. Agora, os partidos oposicionistas ao governo de Mubarak se tornaram todos Ongs.

O clima de conflito em alguns países africanos tem razões diversas e similares ao mesmo tempo. A estudante de arquitetura da Tunísia, Rym Klila, presente na mesma entrevista feita no meio da rua, explica que em seu país as motivações do conflito são mais por uma briga de gerações do que por razões unicamente políticas. Segundo Rym, a juventude tunisiana busca maior liberdade, liberdade essa tolhida pela postura conservadora das gerações mais antigas. A chamada “revolução do celular” demonstra o poder das novas tecnologias e da comunicação no acesso à informação e na possibilidade de articulação. Foi através do aparelho - comum em todas as partes do mundo hoje - que jovens estudantes articularam os protestos em busca de democracia no país. O acesso à internet também foi uma das razões para as transformações na consciência da juventude tunisiana.

A força demonstrada por esses povos reforça a necessidade de união em prol das lutas populares. Mesmo com Estados armados e repressores, essas pessoas têm consigo revolucionar a conjuntura política africana. Se torna cada vez mais difícil, em um mundo dinâmico e globalizado, manter determinadas políticas de opressão. As novas gerações têm hoje maior conhecimento e capacidade de articulação que as anteriores não tiveram.

No final da tarde dessa quarta, 09, um grupo realizou uma passeata pela libertação desses países. A solidariedade de vários representantes de países de todo mundo podia ser vista nos gritos de Liberté Egipt, free Tunísia! Ficou no ar a sensação de que a língua, a nacionalidade ou a orientação política não dizem nada quando o motivo é liberdade e humanidade.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Prainha em protesto


Acontece neste fim de semana, 12 e 13 de fevereiro de 2011, o Iº Campeonato de Futebol Feminino do Farol de Santa Marta, categoria mirim e infantil. O evento é um protesto pacífico contra o histórico problema de esgoto na Prainha do Farol. A situação piora a cada ano. A impunidade e a falta de interesse sobre o assunto deixaram a Prainha imprópria para banho e uma ameaça “ao ar livre” a todos que usufruem do espaço. Atualmente são sete focos de esgoto em uma extensão que não chega a trezentos metros.

O evento visa chamar a atenção da população e das autoridades para o problema e abrir a discussão para a solução. “Com dois mil metros de cano resolvemos a primeira parte do problema que é coletar o esgoto e tirar da faixa de areia. Num segundo passo seria a implantação das estações de tratamento para tratar o esgoto antes de despejar”. Afirma João Batista Andrade presidente da ONG Rasgamar. “Os córregos pluviais estão sendo usados para despejar o esgoto “in natura” na Prainha desde o início da década de 80 e até hoje somos ignorados pelas autoridades que não tem interesse em resolver o problema”, afirma um morador do Farol, “nossos filhos não podem ir mais a praia e os turistas foram escorraçados do Farol de Santa Marta pelo esgoto e pela falta de uma política de turismo responsável”, conclui.

Além de esgoto a ocupação desordenada e o uso da faixa de areia por 4X4 estão inviabilizando o lugar para o turismo.A Prainha do Farol de Santa Marta está podre pelo despejo indiscriminado de esgoto, a Praia do Cardoso, a Praia da Cigana e a Praia Grande se tornaram estrada expulsando as famílias que não conseguem levar seus filhos por causa do tráfego de veículos. O ano de 2011 está sendo encarado como um marco para resolver os problemas existentes no Farol, pois em pleno século 21 não é aceitável conviver com essa situação.

Esgoto a céu aberto, tráfego de veículos indiscriminado nas praias e ocupação de áreas de preservação permanente devem ser controlados, a fim de sustentar uma política de turismo voltada a preservação e valorização ao invés da destruição, a qual se intensifica a cada ano com sério risco de perda da saúde do ambiente e do atrativo turístico.

A Prainha é o lugar onde as crianças da comunidade e turistas brincam, além de ser a “recepção” de um destino turístico apreciado por muitas pessoas de diversas regiões do país.No Farol de Santa Marta, comunidade de pescadores artesanais, cerca de 200 famílias sobrevivem do turismo. A CASAN e a Prefeitura Municipal de Laguna foram convidadas a participar do evento.

Países diferentes, realidades comuns: a luta dos movimentos sindicais africanos


Osíris Duarte, de Dakar, para Sindicatos de SC

As impressões que ficam em relação ao Movimento Sindical pelo mundo não divergem muito da realidade que se vivencia no Brasil. O Fórum Social Mundial em Dakar tem se mostrado um grande espaço de protestos com razões similares aos que tomam corpo no Movimento Sindical Brasileiro.

Além dos Tunisianos e Egípicios, que devido a luta por libertação de regimes ditatoriais em seus países têm sido o foco das atenções, os motivos de luta e organização da grande maioria dos movimentos civíi organizados são os mesmos. Questões como direitos trabalhistas, aumento de remuneração e saúde do trabalhador parecem ser uma pauta comum para sindicatos pelo mundo inteiro. Protestos contra a falta de atenção e liberdade acontecem todos os dias. Até mesmo estudantes da Universidade de Dakar fazem diariamente protestos contra as taxas cobradas pela universidade. Para quem mora em Florianópolis e estuda na UFSC, isso parece um plágio.

Kabbaj Mohamed Larbi é membro da principal Central Sindical do Marrocos, a UGTM. Para ele, os Marroquinos tem muito a aprender com os brasileiros. Assim como Kabbaj, sindicalistas da Guiné Bissau, do Senegal e da Tunísia afirmam o mesmo. Nos relatos aqui coletados pode-se sentir o respeito conquistado pela luta dos brasileiros. Kabbaj afirma que mesmo com uma melhora nas condições de trabalho e renda para os trabalhadores do país, a luta deve se intensificar.

O discurso se aplica à realidade catarinense e brasileira de forma adequada, já que mesmo com os atuais indicadores positivos da economia, muitos direitos trabalhistas têm sido desrespeitados pela classe patronal no Brasil. A importância da militância e da participação mais ativa dos trabalhadores para garantir que não haja retrocessos nas conquistas da classe trabalhadora brasileira é mais do que importante, é fundamental.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Aroma de laranjeiras

Míriam Santini de Abreu

Vejo pássaros, pedras, madeira bruta ou modelada, e há dias em que desejo estar no sonho daquele pássaro, daquela pedra, daquela madeira, onde me saberia pluma macia, canto pontiagudo, farpa, sem nada saber das farpas do humano e de como ferem. Mas então Fernando Karl fala do amor e do aroma das laranjeiras. E aí me lembro, novamente, de que meu cântaro de alabastro está pleno de óleo de nardo.
Abaixo, um presente de Karl aos leitores do blog da Pobres.

POEMA DE AMOR

Karl Blossfeldt, 1929


Fernando Karl


Sinto água na boca quando penso em você:
e aromas de árvores de laranjeiras crescem
por meus talos invisíveis:
hoje passei rente a um pomar de folhas verdes,
passei a língua em tua nuca:
em tua língua:
em tua alma:
no pomar de laranjeiras tudo vai findar,
menos o perfume que recende de teu nome:
no pomar de laranjeiras não há Bíblias nem profetas
nem palavras que soem profundas:
o que tem nesse pomar é um abismo verde
que só posso ver
de
perto
e
de perto
nada vejo
posto que as folhas verdes das laranjeiras
são deusas que me rendem
sob
um guarda-sol de perfume:
um perfume que não sei nunca onde guardar.

Fala na Câmara de Vereadores - dia 07.02.2011

Boa noite a todos. Meu nome é Elaine Tavares e estou aqui representando uma série de entidades do sul da ilha, mais precisamente Campeche, Morro das Pedras e Pântano do Sul. O que vou dizer aqui não é delírio de um sujeito individual, é construção coletiva de um sujeito social que se constituiu naquela região desde há mais de vinte anos. Então, não é pouca coisa. Daí, nosso apelo para que ouçam de verdade o que vou dizer.

O sul da ilha é um espaço geográfico que nestes anos todos tomou uma decisão: não quer fazer parte do modelo de desenvolvimento turístico que a municipalidade e meia dúzia de empreiteiros decidiu para a cidade. E tampouco esse querer é coisa de alguns gatos pingados como dizem alguns jornalistas boca alugada e até o vice-prefeito João batista Nunes. Ao longo de mais de duas décadas o sul da ilha se reuniu, discutiu e deliberou por manter a sua vocação de lugar de moradia, de pesca artesanal, de vida simples e de natureza preservada. O Campeche foi a primeira comunidade a desenhar coletivamente um plano diretor nos anos 80, seguida do Distrito do Pântano do Sul em 1997. E, agora, durante a construção do Plano Diretor Participativo, voltou a afirmar essa vocação, junto com as demais comunidades do sul. Portanto, esse é o desejo das comunidades, concretizado na ação das forças vivas que se organizam e propõem alternativas para seu modo de vida. Não autorizamos a ninguém que tripudie sobre essa decisão, porque ela é democrática e soberana. E como cidadãos e cidadãs que vivem e pensam a cidade, nós queremos ser respeitados no nosso querer.

O sul da ilha vive hoje um processo de adensamento populacional. Enquanto dormimos, dezenas de novos prédios estão sendo erguidos sem qualquer fiscalização e com freqüentes mudanças de alteração de zoneamento. Ou seja, ao bel prazer dos empreiteiros, esta casa e os órgãos da prefeitura vão mudando as regras, completamente surdos às decisões comunitárias.

O Plano Diretor discutido e decidido pela cidade foi engavetado pelo prefeito que preferiu contratar uma empresa de fora de Florianópolis, sem qualquer conhecimento da vida deste lugar. Nós exigimos que seja respeitado o que construímos.

Neste plano, o sul da ilha mostra como é possível que as pessoas possam viver com qualidade de vida, respeitando as possibilidades de mobilidade, a capacidade de água, de saneamento, de respeito ao ecossistema que é frágil e precisa de proteção.

A comunidade não aceita a lógica da construção de imensos condomínios, que privatizam a praia, que poluem, que não levam em consideração os recursos naturais, que sugam o lençol freático, que ocupam as dunas, destroem a restinga, tiram os caminhos comunitários para o mar. Todos os dias vimos na televisão o que acontece em outros lugares onde o mar está tomando as casas. Vimos isso bem aqui, na Armação, com a queda de dezenas de residências que estavam muito próximas do mar. Construções feitas sobre as dunas pagam altos preços depois. Isso tem de parar.

Nos acusam de não querer que mais ninguém venha morar no sul da ilha. Isso não é verdade. O que queremos é que as coisas aconteçam dentro de um plano de sustentabilidade. Porque, afinal, desta realidade não podemos fugir por decreto: isso aqui é uma ilha. Tem um limite. Não observar isso é condenar a cidade e as pessoas à destruição. Nós vamos lutar contra isso.

Por conta de todos estes pontos elencados aqui, a comunidade segue o processo de luta pela manutenção da qualidade de vida nos bairros do sul, fortalecendo os seguintes pontos, para os quais vem buscar o apoio desta casa:


1 – Fiscalização rigorosa para todos estes empreendimentos que já estão em andamento.
2 – Realização de estudo do impacto que esse adensamento populacional pode causar para o sistema de água, esgoto e transporte.

3 – Exigir imediata aplicação da Lei Municipal buscando a abertura de acesso à Praia, que está sendo privatizada do Morro das Pedras em toda a Rua Manoel Pedro Vieira.

4 – Moratória imediata para a construção de novos empreendimentos até que seja definido o Plano Diretor com participação comunitária

Ao longo da semana que passou nós lutamos contra a realização de um mega show no Campeche, que junto com a derrubada do Bar do Chico, espaço histórico e comunitários, inaugura essa investida deste estilo predatório de turismo na nossa região, transformada em bola da vez pela RBS e pela Rede Globo. Nos tiram, à força, um espaço democrático e comunitário e tentam nos impor o modelo do mercado capitalista, consumista, privatista e destruidor. Insisto. Nós não o queremos. Ainda assim a prefeitura tripudiou da vontade popular e realizou dois shows, mostrando que são os grandes empreendimentos os que dão as ordens, garantindo licenças em tempo recorde.

Esta casa é casa que, em tese, reúne a representação dos desejos da cidade. Senhores, a cidade não é dos empreiteiros nem dos turistas. Ela é nossa, das gentes, das pessoas que aqui vivem e trabalham. Portanto, escutem de verdade essa voz. A voz do povo, esse ente que tanto está na suas bocas, mas quase nunca nos atos reais. O sul da ilha quer a moratória já, e a aprovação do Plano Diretor construído pela comunidade.

Assinam esta proposta:

Associação de Moradores do Campeche – AMOCAM

Associação Rádio Comunitária Campeche

Associação dos Surfistas do Campeche

Associação de Pais e Amigos da Criança e do Adolescente (APAM) do Morro das Pedras

Biblioteca Livre do Campeche

Bloco Carnavalesco Onodi

Movimento Saneamento Alternativo – MOSAL

Agrupamento do Cursinho Pré-Vestibular

UFECO

Associação dos Moradores das Areias do Morro das Pedras –AMAREIAS

Núcleo Distrital do Pântano do Sul

Núcleo Distrital do Campeche

Associação dos Pescadores do Campeche

Igreja Católica – Capela São Sebastião