segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Natal e Arquivo X

Míriam Santini de Abreu

Vem chegando o Natal e, como em todos os anos, lembro do filme "A Felicidade não se compra". Tudo porque é demasiado humano fazer o balanço do ano que finda, chorar ou rir, e querer acreditar que um calendário aleatório, 2010 pode 2011, possa mesmo significar uma tabula rasa, uma folha em branco onde seja possível escrever um roteiro novo, ser um personagem diferente, em outro cenário.

Passei o final de semana revendo a sexta e metade da sétima temporada de Arquivo X, e pensei nisso ao acompanhar novamente a trama dos dois primeiros episódios da sétima temporada. Mulder, na incessante busca por respostas, se vê mentalmente aprisionado por seu maior inimigo. E esse inimigo dá a ele, enquanto lhe tira fisicamente a vida, a chance de ter, durante um sonho, outra existência, a existência almejada pelas pessoas comuns, neste episódio concretizada no modo de vida da classe média dos EUA. Mas, mais do que isso, Mulder, nesta falsa realidade, tem de volta tudo o que lhe foi tirado. E assim não há buscas por respostas, porque não há perguntas. E ele envelhece, no sonho, protegido das dúvidas que o atormentavam. Mas não passa disso, um sonho forjado para que seu inimigo possa extrair de Mulder tudo o que essa busca atormentada forjou de mais valioso em seu corpo e sua mente. O que nele há de mais essencial, a síntese de sua extraordinária humanidade e ousadia.

Mulder está à beira da morte quando Scully aparece no sonho induzido por drogas, porque na vida real tenta salvá-lo. Ela jovem; ele, envelhecido e convicto de que seu maior inimigo deu-lhe uma alternativa de viver apenas com respostas, sem perguntas, sem dor. E que isso foi um gesto de amor e proteção. E, no sonho, Scully, implacável diante do choro e dos apelos de Mulder – um Mulder indiferente a tudo o que era e pelo qual lutou, ordena a ele:

- Você tem que se levantar. Levante-se para lutar. Levante-se e encare a luta.

No final do episódio, Scully é que fraqueja e chora, incapaz de saber em quê acreditar e em quem confiar. E Mulder diz a ela, referindo-se ao sonho no qual quase se perdeu:

- Embora o meu mundo fosse irreconhecível e eu estivesse perdido, houve uma coisa que permaneceu igual: você era minha amiga e me contou a verdade. Mesmo quando o mundo estava desmoronando, você foi o alicerce. Minha pedra fundamental.

- E você a minha, Mulder.

Ai, que saudades desses dois...

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