sexta-feira, 2 de abril de 2010

As brumas

Míriam Santini de Abreu

Há um tempo a minha amiga Elaine Tavares escreveu um texto no qual fala sobre amizade e solidão. Ela o conclui assim:
“Iniciada nas coisas dos deuses, eu sempre optei pelo caminho de Morgana. Sem vazios na alma, sem autocomiseração. Mas, sozinha, domo minhas próprias ondas e navego, apesar da névoa, por que sei que, nas brumas, me espera a inefável deusa, a mãe. Então, não há motivos para ter medo de solidão ou tristeza. No sagrado, tenho a melhor companhia.”
Depois de ler o que ela escrevera, eu perguntei, rindo:
- Sim, Elaine, mas... será que em meio às brumas eu posso emparelhar o meu barco com o teu?
Pessoas como eu, que moram longe da família de sangue, compreendem o valor da família de afeto, aquela que a gente forma ao longo da vida. Tanto com uma quanto com outra às vezes a gente briga, se desentende, se interpreta mal. Sobre ambas a gente às vezes despeja fraqueza demais, cobrança demais. Mas quem tem família de sangue longe e conta tremendamente com a família de afeto sabe: sem ela a dor da vida seria como um buraco negro numa galáxia desconhecida, consumindo até a Luz.
Eu me imagino no meio da bruma, na mais negra das noites, no mais ameaçador dos mares, berrando:
- Ahhhhh, perdi os remos, caiu a vela, nada vejo! Por deus, o que faço?
E as mulheres e homens da minha família de afeto gritam:
- Míriam, estás no barco?
- Siiim – balbucio, cheia de medo.
E ouço deles a resposta:
- É o que basta. Espera, minha querida, porque em breve soprará o vento. E nós vamos te esperar no cais...

2 comentários:

elaine tavares disse...

Pode apostar todas as tuas fichas nisso. Não só estamos no cais, mas do lado do barco, prontos a te amparar se tu cair na água. Porque, afinal, às veze, a solidão é necessária. Te amo profundmente e sempre estarei contigo...
beijos

juss disse...

Mi,mesmo entre tuas brumas, vc é que tem me ajudado! Juntas acharemos a saída!!! bj