segunda-feira, 5 de maio de 2008

P&N na América Latina 4




Lago Titicaca e seus encantos e a Praça de Armas em Cuzco

Destino: Macchu Picchu, no Peru La Paz – Copacabana – Puno – Cusco

Marcela Cornelli - Jornalista da P&N

Nos despedimos de La Paz, na Bolívia, no dia 17 de janeiro, num dia frio e chuvoso, e seguimos rumo à cidade sagrada dos Incas. Era uma hora da tarde. Nosso destino: seguir viagem até Cuzco, no Peru. Considerada a cidade imperial dos Incas, Cuzco era o mais importante centro administrativo e cultural do Império Inca até ser invadida e destruída pelos espanhóis. O conquistador Francisco Pizarro invadiu e saqueou a cidade, estabelecendo o domínio espanhol em Cuzco no dia 15 de novembro de 1533.
O nome original da cidade era Qosqo em Quechua, que significa "o umbigo do mundo". As ruas principais de Cuzco contêm restos de paredes Incas. A cidade foi praticamente destruída e os espanhóis construíram suas casas sobre os muros de pedras incas. A Praça das Armas no centro da cidade é ponto de encontro de turistas vindos do mundo todo. Cuzco possui em torno de 300.000 habitantes e está a 3.400 metros acima do nível do mar. Por isso, para chegar até lá, você ainda sentirá os efeitos da altitude.

Em La Paz, pegamos uma van lotada num lugar chamado Cementério. Ao lado da saída dos micro-ônibus e das vans, que eram todos muito velhos, mas até que em bom estado, pode-se comprar alguns mantimentos, água e capas de chuva. Daqui para a frente ter sempre à mão a capa de chuva e ter as roupas da mochila envoltas em sacos de lixo são duas dicas que deixo para quem faz o trajeto até Macchu Picchu por terra. Eu e George, meu companheiro nessa linda viagem, fomos no banco da frente com o motorista. As mochilas foram em cima da van. Eu ainda estava bastante enjoada devido à altitude. As janelas da van não abriam, com exceção da janela do lado do motorista. De turistas somente nós dois, os demais eram bolivianos e eles iam atrás, rindo, contando histórias e comendo, comendo o tempo todo, pollo e papas fritas.
O cheiro de comida dentro da van era muito forte e eu ia passando um pouco mal, mas logo que avistei o Titicaca não havia mal-estar que perdurasse e, como se não bastasse a linda vista, ainda íamos escutando numa rádio boliviana músicas clássicas. Ao som de Bach e Strauss seguíamos na van com os boliavianos pelas margens do Titicaca, o maior Lago da América Latina, com 8.300 kilômetros de extensão e também o lago navegável mais alto do mundo.
Pelo caminho, antes de chegarmos a Copacabana, presenciamos a retirada de corpos de um acidente com um ônibus pequeno que havia caído no penhasco. A viagem margeando o Titicaca se faz numa estrada asfaltada e boa, porém qualquer descuido do motorista pode provocar um acidente e o carro despencar metros de altura. O motorista do ônibus tombado havia dormido no volante, foi o que nos disseram. Paramos para ver o que estava acontecendo. Todo mundo estava parando, mas não só por curiosidade e sim em solidariedade, porque poderia ter sido qualquer um dos demais ônibus e vans que por ali passavam. Em meio a um clima um pouco mais triste pelos 21 bolivianos mortos seguimos nossa viagem. A paisagem é inspiradora. O Titicaca parece um imenso mar, formado pelo degelo das cordilheiras andinas.

Nas margens do Titicaca as plantações ainda realizadas com técnicas incas enchem os olhos e a paisagem com várias tonalidades de verde. Na Bolívia, só de batatas ou papas, como eles falam, são 158 tipos. Pelo caminho muitos carros enfeitados com flores nos chamaram a atenção. O motorista da van explicou que os carros estavam vindo de algum batizado. Precisamos atravessar de barco uma parte do Titicaca. A van foi numa pequena balsa e nos encontrou do outro lado. O barco balançava bastante e as crianças e senhoras ficaram com um pouco de medo. Um dos meninos que estava conosco sentou no meu colo e olhando-me assutado disse: “Yo no sé nadar”. O irmão mais velho riu dizendo que a preocupação era porque não tinha nenhum salva-vidas no barco. Mas a travessia pelo Titicaca não dura mais do que uns 10 minutos e logo chegamos na outra margem.
Ainda com a mesma van fomos até Copacabana. A cidade é pequena e tem no centro uma praça com uma igreja em homenagem à Nossa Senhora de Copacabana, santa que também originou o nome da praia de Copacabana no Rio de Janeiro. Já era final de tarde e apesar de muitos turistas pararem por ali pelo menos um dia, resolvemos seguir rumo a Cuzco. Para isso, pegamos mais uma van até a fronteira. Também para cruzar da Bolívia ao Peru só nos foi solicitado a carteira de identidade. Cruzamos a pé. E tivemos sorte porque quando mal saímos da aduana, estacionou na frente do prédio um ônibus lotado de turistas franceses. Se tívessemos ficando cinco minutos a mais em Copacabana enfrentaríamos uma pequena fila de turistas para cruzar a fronteira. Já do lado peruano pegamos outra van até Yunguyo e dali mais um ônibus rumo a Puno, nossa próxima parada antes de chegar a Cuzco.
O ônibus que nos levou a Puno era pequeno e velho e as bagagens seguiram amarradas em cima do veículo. De turistas como nós, havia um casal de canadenses, que entraram desconfiados no ônibus, não pelo povo, pois a exemplo da Bolívia, todos eram bem hospitaleiros com os viajantes, mas, talvez, por estarem muitos dias na estrada como nós, numa viagem cheia de surpresas, porque nunca se sabia muito o que viria pela frente. Seguimos todos por mais uma etapa da viagem, ainda margeando o Titicaca, agora do lado peruano. Do som no ônibus (um toca-fitas antigo) sonava uma canção típica peruana. O ônibus seguiu até Puno sem maiores problemas. Já era noite quando chegamos no terminal da cidade de Puno. E mais uma vez trocamos de meio de transporte. Agora um taxista (numa bicicleta transformada em táxi e coberta com uma lona) nos levou pelas ruas de Puno até a rodoviária onde, finalmente, após trocarmos seis vezes de meio de transporte desde que saímos de La Paz, ou seja em menos de 24 horas, conseguimos pegar o ônibus para Cuzco.

Estávamos tão cansados que pedimos ao taxista uma dica de empresa para que o ônibus fosse um pouquinho bom, que, pelo menos, não quebrasse. A rodoviária em Puno estava tomada por turistas, nativos só nos balcões das empresas de ônibus e nas lanchonetes. Parada para um lanche, banheiro, não dava quase para andar no meio de tanto turista. Eram mais ou menos umas 22 horas. E todos estavam eufóricos naquela rodoviária. Acredito que porque Macchu Picchu estava cada vez mais próximo.
Na viagem até Cuzco um susto na aduana. Bolivianas que viajavam no ônibus nos pediram para “guardar” atrás da gente e embaixo dos encostos dos nossos bancos roupas de crianças e muitas roupinhas de bebês. Enquanto elas socavam malas nos nossos pés e roupas nos nossos bancos fiquei segurando um dos bebês, que também estava socado de roupa, nem se mexia. Achamos que era para elas não pagarem excesso de bagagem e resolvemos ajudar. Porém na aduana para entrar no estado cuzquenho, levamos um susto. Entraram no ônibus muitos policiais. O ônibus não tinha luz interna.
Os policiais entraram segurando nas mãos lanterninhas (iguais àquelas usadas pelos agentes Mulder e Scully no seriado Arquivo X) e colocavam a luz na cara de todos. Pensei nas roupas, se não eram contrabando. Ficamos nervosos, mas não nos movemos. Estávamos embaixo de uma manta que as bolivianas tinham nos emprestado para nos cobrirmos e, é claro, para esconder as roupas. Passado o susto, o resultado: as mulheres tiveram suas várias malas apreendidas, só restando basicamente as roupas que carregamos para elas. Recebemos muitos sorrisos e palavras de agradecimento, mas ficamos com a certeza de que nos metemos em algo que poderia não ter acabado muito bem.

Chegamos em Cuzco no dia 19 de janeiro, às seis da manhã - uma das últimas paradas da viagem antes de subirmos a Macchu Picchu. Pegamos um táxi até o centro da cidade e nos hospedamos num hotel bem baratinho, sem luxo algum, mas atrás da Praça das Armas, um dos pontos turísticos mais famosos de Cuzco, pertinho de tudo e ainda tinha um delicioso café da manhã, com leite, café, pão, suco de mamão e geléia, mas nunca imagine o pão brasileiro, o de lá é mais duro, escuro e em forma de uma grande hóstia redonda. Há muitos passeios para fazer ao redor de Cuzco e na própria cidade, que tem como a Praça das Armas o ponto de encontro, com muitas construções espanholas, restaurantes, cafés, bancos, agências de turismo. Aproveite em Cuzco também para tomar a cerveja Cuzquenha e a Inka Cola, além de, para quem não é vegetariano, experimentar os pratos com carne de Lhama e Alpaca.
Em Cuzco é bom ficar de olho nos preços dos pacotes de passeios. Lembram da professora do Rio de Janeiro que encontramos em Puerto Quijarro na Bolívia - início de nossa viagem. Ela estava pelas ruas de Cuzco buscando "la policia” para reclamar que tinha sido “assaltada” no preço dos pacotes para visitar o Vale Sagrado dos Incas. Por isso, pesquise tudo com calma, há muitas possibilidades e decida o que é melhor para você. É possível continuar a viagem por conta própria, porém resolvemos, para agilizar o tempo e garantir os ingressos para Macchu Picchu, fazer um pacote de viagem para o Vale Sagrado e para subir Macchu Picchu. Aproveitamos o dia para passear pelo centro de Cuzco. À noite choveu muito, andamos pelas ruas de Cuzco embaixo de chuva mesmo, a emoção de estarmos tão perto do nosso destino aumentava.

No dia 20 de janeiro partimos bem cedo com um micro ônibus para o Vale Sagrado e rumo a Mapi (ou Aguas Calientes - nome turístico, mas que os nativos não gostam muito). Mapi é base para a subida a Macchu Picchu. É uma vila que fica no meio da montanha e só se chega lá por trem. Na próxima segunda-feira conto mais sobre o Vale Sagrado dos Incas, a vila de Mapi e como é chegar a Macchu Picchu, a cidade perdida do Império Inca.

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