quarta-feira, 12 de março de 2008

Impróprios, infantis ou desumanos?

Por Samira Moratti, de Florianópolis
De acordo com informações do site G1, o canal de TV russo 2X2, especializado em animações para adultos, teve que retirar do ar o desenho Happy Tree Friends após reclamação do governo. De acordo com a revista Variety, a animação era imprópria por conter cenas de violência trocadas entre os personagens. No Brasil, a série é transmitida na MTV todas as quartas-feiras, às 23h30.

Apesar do fato, a emissora respondeu que o desenho não era transmitido em um horário no qual crianças pudessem assistir. Além disso, uma mensagem explicitando que o desenho era inapropriado para crianças era divulgada antes de exibi-lo.

A notícia pode – e deve – ser mote para discussões aqui no país. Não, no sentido da atitude do governo, mas sim, do conteúdo dos desenhos animados. Hoje, consideram-se inapropriadas cenas, imagens ou sons que contenham conteúdo apelativo, como pornografia ou palavrões. No entanto, as animações assistidas diariamente por milhares de crianças brasileiras, nos mais variados canais abertos e fechados, utilizam outros artifícios que poderiam ser considerados inapropriados. Muitos deles banalizam a amizade, envolvendo brigas entre amigos. Alguns, considerados inofensivos tais como Tom & Jerry e Coiote e Papa-Léguas, mostram por vezes ambos se agredirem ou se matarem e, logo após o feito, reviverem. De certo modo, uma criança de oito anos sabe que isso é impossível; já uma de dois ou três anos não terá esse mesmo raciocínio.

Mentes críticas e reflexivas
O desenho Itchy & Scratchy (Comichão e Coçadinha), exibido internamente em The Simpsons, também utiliza brigas e agressões variadas para levar Bart, Lisa ou Maggie às gargalhadas. O que parece engraçado é, na verdade, motivo para reflexão sobre até onde é válido usar a banalização excessiva da violência. A mesma análise deve ser feita no jornalismo.

Ora, em meios jornalísticos, se discute há tempos o tabu de divulgar ou não notícias sobre suicídio. Os códigos de ética mencionam evitar a divulgação, exceto nos casos em que o suicida é famoso, além do fato da notícia em questão ter validade para a sociedade, como a morte de um presidente, por exemplo. Porém, é válido divulgar assassinatos, estupros seguidos de morte, ou qualquer outro fato que contenha muito sangue e palavras tanto quanto invasivas. Logo, que critério é esse que valida certas notícias e outras não?

Diz-se que, ao divulgar notícias sobre suicídio, por exemplo, pode-se influenciar esse tipo de comportamento na sociedade. E ao divulgar cenas de violência? Não há influência? E quando o repórter se refere ao corpo da vítima com a expressão "... o que sobrou do corpo", por exemplo? Também não é nocivo, inapropriado?

Assim também o é com desenhos animados. Os mangás, em sua maioria, usam a perspectiva violência = audiência. Mas não é exclusividade deles. Os norte-americanos X-men, Spider Man ou outro qualquer que se valha da narrativa violenta como forma de obter atenção, também devem ser foco de análise. Além de conter violência, muitos deles possuem mensagens subliminares, motivando o consumo entre outras ações, de forma psicológica. É necessária maior atenção ao conteúdo repassado às crianças, assim como no que é recebido através dos noticiários. Dessa forma, serão garantidos subsídios para mentes críticas e reflexivas.

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