domingo, 17 de fevereiro de 2008

Filhos do sumidouro

Míriam Santini de Abreu

Nas estranhas histórias de João Flávio, ambientadas em Vacaria, norte do Rio Grande do Sul, geralmente aparece uma tapera. Palavra originada do tupi, tem um significado peculiar - um regionalismo gaúcho - no dicionário Michaelis: "casa onde reina a tristeza ou em que não se nota o movimento do bem-estar moral ou material". Por causa dessas histórias, toda vez que eu passo por Vacaria, a caminho de Florianópolis, experimento um estranho encantamento. Talvez por saber que a quilômetros dali, a leste, ficam as misteriosas escarpas de Aparados da Serra, que até o ano passado eu não conhecia.

O pai volta e meia conta a história do sumidouro, ponto de um rio onde desapareciam animais. Pequena, eu imaginava que aquele seria o Triângulo das Bermudas vacariano, berço de insólitos fatos.

Quando, em 1992, voltava de minha primeira visita a Florianópolis, na Br-116, próximo de Vacaria, flagrei, por segundos, uma imagem que nunca esqueci.

O sol se punha, naquele adorável lusco-fusco da Serra. Havia, na beira da rodovia, uma colina suave, e sobre ela estava um homem a cavalo, duas sombras obscurecendo os últimos clarões vermelhos no horizonte. Meu coração saltou no peito. Pareciam dois visitantes de tempos imemoriais que, num átimo, materializaram-se naquele campo sulino. E partiram, homem e cavalo filhos do sumidouro.

Ouça mais uma história de João Flávio:

Crédito: Periodistas Pobres & Nojentas

2 comentários:

Anônimo disse...

agora eu vi a quem minha amiga puxou.. heheheheh

Gilberto Motta disse...

Maravilhoso, Miriam. Contadores de "causos/vidas". Obrigado!!!!