sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Chuva de iguanas


Míriam Santini de Abreu, jornalista

Tenho sempre esse desejo, às vezes irrefreável, de acreditar em tudo o que me contam. Gosto de acreditar, mesmo que não deva. É que o mundo nos traz notícias que, devidamente explicadas pela ciência, às vezes parecem inacreditáveis, como esta:

MIAMI (AFP) - A onda de frio que chegou esta semana à normalmente tropical Miami (Flórida, sul dos Estados Unidos) provocou um fenômeno surpreendente em parques próximos da cidade: uma espécie de chuva de iguanas que caíam das árvores, adormecidas por efeito das baixas temperaturas.
Nos parques Bill Baggs e Crandon de Key Biscayne (ao sul da cidade), era possível ver os répteis caindo pesadamente sobre o solo como se estivessem mortos, enquanto agentes municipais os recolhiam do chão e os colocavam em algum lugar ao sol para se aquecer.
A iguana tropical é um réptil de sangue frio que precisa de uma temperatura ambiente superior a 23 graus Celsius, preferivelmente em torno dos 35, para se manter ativo. No entanto, os termômetros em Miami na quarta e quinta-feira marcavam mínimas de 4 e 5 graus em algumas áreas do sul da Florida.
[...]
(...) em dias de frio intenso, o corpo dos animais entra em um estado de letargia, e apenas seu coração continua funcionando; elas adormecem e despencam do alto das árvores, onde habitam.

A notícia me fez lembrar da fábula da cigarra e da formiga. Eu, pequena, não conseguia me conformar com a moral da história. Era incompreensível, para mim, que as formigas negassem comida à cigarra, que passara o verão cantando, feliz. Como eu compreendia a cigarra!

E, agora, o louco clima parido pelo mundo capitalista esfria a Flórida e derruba as iguanas.

Neste calor de Florianópolis nunca escuto os machos das cigarras seduzindo as fêmeas. Devem estar todas sob a terra, em assembléia, apoiadas nas raízes, incertas quanto ao clima para começar a acasalar.

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